sábado, 28 de agosto de 2010

Amor Eterno

-Oi querida.
-O que você quer? Eu já não disse que não era mais para falar comigo?
-Por favor, me deixe entrar. Eu só quero conversar um pouco.
-Não, não vou deixar. Nós não temos mais nada um com o outro.
-Não quero falar sobre nosso relacionamento. Por favor, abra a porta.
A mulher bufou. Mas o deixou entrar. O rapaz andou um pouco pela sala antes de se sentar no sofá.
-Você parece confiante, diferente da última vez...
-É que eu vi que você estava certa. Não há como restituir o nosso relacionamento.
-Que bom que você percebeu isso. Mas por que veio aqui?
-Eu só quero me abrir com você.
A mulher deu passos leves e se sentou ao lado dele.
O rapaz pegou a carteira do bolso e tirou algumas fotos de dentro, para ficar olhando.
-Você quer falar sobre a sua família?
-Não. Eles não são a minha família.
-Então, quem são?
-São pessoas que eu matei. Eu sou um assassino. – Ele riu. Ela riu depois dele.
-É sério, quem são... – Ela começou a dizer, mas não pôde terminar, pois seu celular tocou.
-Desculpa, você pode esperar um pouco?
– Tudo bem.
- Alô. Não. Aqui não tem ninguém com esse nome. Tudo bem.
-Foi engano?
-Foi sim. Odeio quando acontece isso.
Ela colocou o celular sobre a mesa. Cruzou as pernas e repousou as mãos sobre elas, pronta para ouvir o rapaz. Mas ele não olhou para ela. Ele simplesmente pegou o próprio celular e ligou para um número que ela não pôde ver.
-Alô? Oi cara. Sabe aquela minha ex? Não estou conseguindo falar com ela. Acho que nem vou voltar aí, vou direto pra casa. Tá bem. Falou.
-Por que você disse que não conseguiu falar comigo?
-É que eu não quero que fiquem sabendo que eu vim atrás de você outra vez.
-Ah sim... Você ainda não me disse o motivo de vir aqui.
-Ah, sinto muito. Os últimos dias têm sido tão difíceis para mim...
Repentinamente, como se já tivesse em mente o que faria, o rapaz se levantou, pegou de cima da mesa o celular da mulher e o jogou na parede, fazendo-o partir-se em vários pedaços.
-Ei! Por que você fez isso?
-Fiquei com vontade.
A mulher se levantou e deu alguns passos para trás.
-Acho melhor você ir embora. Eu preciso dormir cedo. Vou trabalhar amanhã. - Ela disse.
-Sinto lhe informar, mas não vai não.
A mulher se virou e tentou correr para fora da casa. Mas o rapaz a alcançou e a sufocou até ela perder a consciência.
Quando ela acordou, estava nua, com os pés e as mãos presos a uma mesa por algemas.
-Pare com isso! O que você quer de mim?!
-Eu queria o seu amor.
-Você vai conseguir amor me estuprando e me matando?!
-Prefiro ver minha amada morta a ser rejeitado por ela. E não se preocupe, eu não te estuprarei.
-Você vai ser pego! E vai para a cadeia!
-Não vou não. Sabe aquelas pessoas das fotos? Elas já estiveram no seu lugar. E eu ainda estou com a minha ficha limpa na polícia.
-Você é doente! Por que fica conversando comigo?! Por que não me mata logo?!
-Você tem razão. Eu sou doente. E eu queria me divertir um pouco, depois que você me largou. Por isso não te mato logo.
-Eu pensei que podia confiar em você...
-Você podia. Se não tivesse me largado.
Depois de dizer isso o rapaz passou a mão no rosto dela. Ela começou a chorar alto, em agonia. Então ele se levantou, pegou um pano e a amordaçou.
A visão da mulher estava turva por causa das lágrimas, mas ela conseguiu ver seu ex-namorado encostando um martelo na testa dela. Então ele disse:
-Só vai doer um pouquinho.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Abismo


Eu estou aqui. Deitado na água quente da minha banheira. Ouvindo o Canon em ré menor de Pachelbel, no meu aparelho de som de ponta. Qualidade máxima. Estou tranquilo. Vendo o vapor subir da água, embaçar o espelho do meu banheiro. E admirando a decoração do mesmo. Afinal, contratei um decorador somente para fazer isso. A espuma também é muito relaxante. Eu não poderia estar em um lugar melhor. A água quente envolvendo meu corpo, me tranquilizando. Estou com um livro em mãos, mas não estou lendo agora. Também tenho uma cesta com frutas, uvas claras e escuras, maçãs, peras. Tudo ao meu dispor. Se eu quiser alguma coisa fora disso, posso chamar minha empregada para me trazer. Eu tenho tudo o que quero.

E o melhor de tudo, estou sozinho. Sem pessoas menores, como você, por perto de mim, para me invejarem e falarem de mim. Aposto que você não tem nem uma banheira em casa. Quem dera tivesse uma suíte como eu. Provavelmente seus banhos são rápidos e você mal fica debaixo da água. De baixo da água, por que com certeza é um chuveiro comum. Quando sai do banho, se embrulha em uma toalha mofada e passa frio até se trocar. Muito frio, por que estamos no inverno gelado, e você não tem a sorte de ter uma casa quente e uma banheira aquecida, como eu.

De sábado, você provavelmente sai com seus amigos favelados para um bar. Bebem até passarem mal. São pessoas sem estilo nenhum e sem propósitos na vida. Eu, aos sábados, vou com minha família a algum teatro para assistir uma peça bem comentada ou até mesmo uma ópera.

Você, aos fins de semana, vai a baladas toscas e se prostitui, beijando várias pessoas diferentes. E a propósito, feias. Meus romances são de qualidade totalmente superior. Ou eu vou à casa de minha namorada, ou ela vem à minha. Ela é linda, vai a salões de beleza, se produz. É a perfeição. Pois ela também tem dinheiro, assim como eu, e diferente de você e das pessoas que a vida de baixa sociedade o força a passar as noites com.

Minha vida é totalmente diferente da sua. Eu tenho dinheiro, tenho luxo. Não passo necessidades, tenho sempre conforto máximo. E você nunca tem nada. Passa frio, talvez fome, não tem condições de ter tudo o que deseja. Ainda bem que eu não tenho que me preocupar com pessoas do seu nível. Continuo aqui na minha banheira aquecida, apreciando minha própria vida. Não me importo com pessoas como você. Gentalha inútil. Agradeço por estar afastado de toda essa vida desclassificada, repugnante e medíocre que você leva.

Macacos das Neves, minha fonte de inspiração para o texto