terça-feira, 12 de abril de 2011

Você é o Culpado

A culpa é sua. A culpa é toda sua. Eu rejeito a minha culpa e a coloco em você. E vou te punir. Você não merece nada. Você não tem capacidade para nada. Vou rejeitar todas as suas ideias e questionamentos e vou impor as minhas. E vou te considerar inferior e incapacitado por pensar diferente de mim. Você sabe o que discordar de mim e me questionar significa? Vou te considerar sem mentalidade, influenciável, sem maturidade. Vou te considerar incapacitado. Porque se você discorda de mim você não tem capacidade para fazer nada direito.

Eu invento um livre arbítrio que não existe para te culpar. Vou falar que tudo o que eu te fiz, na verdade foi escolha sua. Desde que você nasceu eu vejo que você não tem atitude para nada, que você não pensa por si próprio, que você não sabe fazer escolhas. E vou ficar repetindo isso até você aceitar, porque eu quero que você pense igual a mim. E depois, todas as consequências que isso acarretar, vou dizer que foram escolhas suas. Eu quero te moldar. Eu quero te forçar a ser algo que você não é. Quero que você aceite como verdade o que eu aceito como verdade, eu quero que você seja igual a mim, eu quero que você faça parte de mim. Mas não quero pensar nas conseqüências que isso acarreta na sua personalidade. Vou falar que tudo foi escolha sua, e que minhas punições são consequências delas.

Vou excluir toda a realidade. Vou fechar minha mente. Vou aceitar como verdade absoluta algo que nem sempre é verdadeiro, e vou aceitar ser influenciada por aqueles que demonstram mais poder. Vou dizer que o meu caminho é a luz e que todo o resto é lixo e não presta. Qualquer pessoa, para prestar, tem que pensar igual a mim. Por isso que você não presta, e eu vou te punir por isso.

Por quê? Por quê? O culpado de tudo isso é você. Você que não quis ser igual a mim. Você que quis ser burro, e me questionar, e discordar de mim. Você não pensa. Você não tem atitude. Você não sabe escolher. Você é o culpado. Você é o culpado. Você é o culpado. Você é o culpado.

Não adianta o que você disser, eu vou repetir isso inúmeras vezes. Vou repetir até os seus ouvidos sangrarem e você ficar surdo, ouvindo somente a minha repetitiva voz: Você é o culpado. Você é o culpado. Você é o culpado. Você devia pensar igual a mim. Você devia ser igual a mim. Você devia ser minha continuação. Eu te criei para que você fizesse parte de mim. Por que você tem que pensar diferente? Por quê? Você é o culpado. Você é o culpado. Você é o culpado. E ai de você se você colocar essa culpa em mim. Aí eu vou te odiar. Vou te odiar muito. Vou brigar com você o tempo inteiro. Vou sempre te jogar na cara. Porque você pensa diferente de mim, e por isso eu te considero inferior, burro, sem mentalidade, sem maturidade. Por que você quis pensar diferente? Agora você é o culpado por isso. Você é o culpado. Você é o culpado.

Você é o culpado. Toda a culpa é sua. Eu te culpo. Eu te acuso. Você errou. Você sempre erra. Toda a culpa é sua. Você é o culpado. Você é o culpado. Você é o culpado. Eu te culpo. Você está errado. Você é errado. Eu te acuso. Eu te culpo. Você deu errado. Não era para você ser assim. Você está errado. Você é o culpado. Você é o culpado. Você é o culpado.



Desculpe-me, Aci. Desculpe-me. Você não sabe como eu me arrependo. Arrependo-me de pensar diferente de você. Arrependo-me de ser quem sou. Arrependo-me de respirar.

Eu não queria ter nascido. Eu queria ter sido abortado. Desculpe-me, Aci. Desculpe-me.

Eu sou tão problemático... Por que não aceito pensar como você? Porque não discarto minhas ideias, meus questionamentos, minha vida... Para viver o que você quer que eu viva? Eu queria, muito, muito, ser o seu complemento. Fazer parte de você. Eu queria que minhas escolhas fossem as suas escolhas. Eu não queria pensar, eu queria que você pensasse por mim. Assim eu ficaria em paz. Assim eu te deixaria em paz. Mas não consigo. Não consigo viver assim.

Desculpe-me.

Eu sou o culpado por tudo isso. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado. Por que você não me pune de uma vez? Por que você me tortura tanto? Por que fica jogando na minha cara todos os meus erros e falhas?

Por que você não me pune de uma vez? Não vou fugir, não vou discordar, não vou pedir socorro. Eu vou deixar que você me puna. Eu quero que você me puna. Eu quero que você me bata, me esmurre, me ataque. Eu quero que você bata em mim com a vara, eu quero que você me derrube no chão. Eu quero que você pule em cima de mim, eu quero que você pule em cima de minhas costelas. Eu quero que você quebre minhas costelas, e assim eu ficarei sem ar, e não poderei mais te questionar. Eu quero que você me suje, eu quero que você me faça sangrar. Eu quero que você pise em mim, eu quero que você pise no meu pescoço. Eu quero que você me humilhe, eu quero que você me faça sofrer. Eu quero que você me puna. Alivie-se em mim, eu sou o culpado. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado.

Eu não mereço nada. Eu não mereço o seu amor, eu não mereço o seu carinho, eu não mereço a sua paciência. Eu não mereço nada. Eu destruo tudo, eu acabo com tudo. Eu sou ingrato, não dou valor a nada. Acabe com tudo isso de uma vez. Pare de me torturar emocionalmente. Quantas vezes eu vou ter que pedir para que me puna? Eu quero ser punido. Eu quero sentir dor. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado. Eu quero ser punido. Eu quero sentir dor. Assim serei liberto dessa tortura infernal.

Desculpe-me, Aci. Desculpe-me.

Eu sou o culpado. Toda a culpa é minha. Eu me culpo. Eu me acuso. Eu errei. Eu sempre erro. Toda a culpa é minha. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado. Eu me culpo. Eu estou errado. Eu sou errado. Eu me acuso. Eu me culpo. Eu dei errado. Não era para eu ser assim. Eu estou errado. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado. Eu sou o culpado.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Lembrança


 Incrível como você sempre teve a habilidade de me fazer chorar. Essa noite eu sonhei com você. Você finalmente me visitava, na minha casa. Promessa que você nunca chegou a cumprir. Quando te vi, me senti angustiado, embora você estivesse aparentemente bem. Acho que é pelo fato de termos brigado antes de você ir embora. Sempre te amei muito, embora não conseguisse conviver com você. E isso me fazia sofrer demais... Amar-te tanto assim e não conseguir me dar bem com você. E quando te vi na minha casa chorei muito e tentei me esconder.

Eu te admiro tanto... Eu queria ser igual ao que você foi. Eu queria que você tivesse me admirado o quanto eu te admirei. Eu queria que você não tivesse partido.

Resolvi enfrentar meu medo de falar com você. Levantei-me, saí de meu esconderijo e me apresentei. Você estava ainda mais linda, cativante e inteligente. Incrível como você sempre se superava cada vez que fazia algo. Só não consigo entender por que você teve que ir embora... Mas enfim, eu sempre te admirei muito, como se eu não fosse bom o suficiente para te merecer.

Começamos a conversar, e logo já estávamos nos dando bem. Eu adorava quando nossos momentos juntos eram assim: Simples, sem acusações, sem discutirmos sobre nosso relacionamento... Somente falando sobre as coisas simples da vida. Levei-te para ver meus desenhos, para que você também se orgulhasse de mim. Quando você ainda estava ao meu lado, eu me sentia completo. Receber os seus elogios era o que mais me fazia sentir bem.

Aí seus pais te chamaram. Chegou a hora de você ir embora. Eu queria que você ficasse, pedi para que passasse a noite comigo. Eu queria te ter para mim. Não poderia aceitar perder-te de novo. Mas você foi. Eu acordei com o rosto molhado. E a única coisa que eu sentia era saudades de você.

Você ainda continua aqui dentro, você ainda existe em mim. Você ainda aparece nos meus sonhos, nas minhas lembranças, você faz parte da minha personalidade, do meu ser. Você é tão especial para mim, que, nos meus sentimentos, você não se foi. As memórias que você me deixou são meu tesouro, e eu jamais abrirei mão delas.

E a única coisa que eu sinto é saudades de você.


Esse texto foi concebido como continuação do texto Autopsicometeorologia, e inspirado no texto "Sétima Lembrança" de um colega de blog.