Laura, a irmã mais nova, se entretinha com Lego. Ela
gostava de montar casas e pôr bonecos dentro, para fazer de conta que fossem
uma família. Sua irmã mais velha, Bruna, a olhava ao mesmo tempo em que fazia os
deveres da faculdade.
Certo dia, Laura montou uma casa não muito grande e bem
colorida, porque ela tinha preguiça de procurar por peças da mesma cor. Ela
admitiu lacunas onde deveriam ser a porta e as duas janelas. Usou peças
pequenas para simular os móveis. Não montou um teto, pois seria trabalhoso
demais. Por vaidade, ela quis mudar as cores das peças que formavam o corpo dos
bonecos. Seus dedos acabaram ficando doloridos por ter de usar tanta força ao
desmontá-las.
A família fictícia dela era composta por um pai, uma mãe
e duas filhas. O pai trabalhava no lixão, que na verdade era o amontoado de
peças que não estavam sendo usadas. As duas filhas estudavam na escola, atrás
da cama, e a mãe era dona de casa.
A boneca mãe estava fazendo o almoço quando o marido
chegou. “Chegou cedo hoje, querido”, ela disse. Então ele respondeu “Quero
ficar mais tempo com a minha família”. “E as meninas, vão vir pra casa como?”, ela
indagou. “O ônibus escolar vai trazer elas”. Então as duas meninas entraram
pela porta dizendo “Já estamos aqui, mamãe”.
Laura parou com a encenação. Ela estava com dificuldade
em colocar a última garota dentro da casa. Não havia espaço suficiente.
-Droga! Ela gritou.
-Que foi? Perguntou Bruna, cessando o dever de casa por
alguns instantes.
-Ela não tá entrando!
-Como assim, Laura? Me explica, pra eu ver se posso te
ajudar. Bruna se levantou da escrivaninha para ver a brincadeira da irmã.
-Olha só! A menina não tá entrando dentro da casa!
-Não tem espaço para todos os bonecos, Laura. Você não
vai conseguir colocar todos ao mesmo tempo.
-Essa casa é uma droga! Essa menina tá me irritando!
Laura começou a gritar, e chutou a casinha na parede,
fazendo com que várias peças se soltassem. Depois fez bico e cruzou os braços.
Ela odiava quando a família dela não ficava do jeito que ela queria.
-Calma. Não precisa fazer isso. Você pode continuar
brincando.
-Eu não quero mais! Não tá do jeito que eu quero!
Então Laura pegou a casinha e desmontou-a inteira,
arrancando todas as peças e jogando-as longe. Bruna balançou a cabeça em
negação. Sua irmã mais nova era inacreditavelmente impaciente e controladora.
Ou, como dizem, mimada.
-Laura... Não adianta você ficar brava com seus
brinquedos. Os bonecos não se rebelaram contra você. Não foram eles que
rejeitaram entrar na sua casinha. Foi você que montou tudo do jeito que estava.
Para com esse escândalo e aceita as coisas do jeito que elas ficaram. Fico
imaginando o dia que você estiver adulta e com uma família de verdade.