segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ela e Ele

Ela e Ele

E ela tinha um segredo. Um segredo que não queria que ninguém soubesse.
E ela não contava para ninguém porque tinha vergonha.
Mas ele! O problema dela era a virtude dele!
Ele acolhia e abonava aquilo que ela recusava e se deslustrava.
E ela o censurava pela forma como ele lidava com aquilo.
E eles brigavam um com o outro pelo conflito de ideias.
E ela o amava. E ele a abominava.

Como pode? Amar algo que se odeia?
Como ele podia amar um defeito que o difamava?
Como ela podia amar alguém que era o que ela odiava?
Mas ela não sabia o que disse Okatsura Lau:
Que gostamos das pessoas pelas suas qualidades.
Mas que as amamos por seus defeitos.

E ela estava indigesta por suas emoções.
Indigesta porque não as entendia.
E indigesta porque cada vez que ela o via, ou pensava nele, ou sentia algum odor que a recordava do dele, sentia seu coração dentro de seu estômago.

E ela estava acomodada a ignorá-lo.
Até o dia que ele foi irônico com ela.
Que ele soube o segredo dela, mas foi indireto ao demonstrar que descobriu.
E afinal, ela não teve nem certeza da ciência dele.

E ela ficou perdida.
Os planos dela se perderam e ela não conseguiu mais ignorá-lo.
E tudo o que ela teria feito, foi embaralhado.
Embaralhado pela ansiedade de saber que ele soube, mas não saber o que ele faria.
E se ele soube, por que não falou nada para ninguém?
Por que ele manteve o segredo dela, se o mesmo defeito, dele, não é segredo?
Será que ele realmente soube?

E o mundo dela girou.
E girou.
E girou.

E o que uma vez foi grande para ela, deixou de ser.
Deixou de ser depois que ele descobriu o segredo dela.
Porque ela não conseguia mais se concentrar em pensar em seus sonhos.
Porque sempre pensava nele.
E se questionava a respeito dele.
E sofria por causa dele.

E o tempo passou.
E eles se tornaram adultos.
E cada um seguiu seu rumo.
Mas ela sempre o admirou.

E depois de muito tempo, já velhos, se reencontraram.
E ela perguntou se ele sempre soube de seu segredo.
E ele respondeu que sim.
E ela perguntou se ele também gostava dela.
E ele respondeu que sim.
E ela perguntou por que ele nunca revelou a ninguém.
E por que ele nunca se confessou a ela.
E ele respondeu que não quis espalhar o segredo dela.
E que ele não quis que ela se desgostasse de si mesma por estar com ele.
E que ele achava deplorável alguém ter vergonha de viver.