sábado, 25 de dezembro de 2010

Autopsicometeorologia

Debruçado no batente da janela, vendo o céu. Acinzentado, cheio de nuvens escuras. Parecia que ia chover. Não gosto de dias assim.

Eu conheço ela desde que tínhamos 9 anos. Carolina era filha de uma amiga de minha mãe. De início, eu não queria falar com ela. Ela era estranha. Minha mãe queria que eu fizesse companhia a ela e fosse seu amigo por que ela estava com leucemia. É triste, mas é verdade, uma garota de 9 anos com leucemia. Quando eu fui visitá-la pela primeira vez, as nuvens estavam escuras e altas como hoje, e chovia.

Quando Carolina teve alta e saiu do hospital, a mãe dela matriculou-a na escola onde eu estudava. Afinal, eu era seu único amigo. Ela era uma garota estranha, careca, mas com o passar dos meses foi se tornando a minha melhor amiga. Eu ficava o tempo inteiro conversando com ela, todos os dias.

Um dia, quando tínhamos 11 anos, estávamos brincando na quadra da escola. Eu bagunçava o cabelo dela, que já tinha crescido, e ela pulava em cima de mim para tentar bater na minha cabeça, mas não conseguia por que ela era muito baixinha. Em uma das suas tentativas de tentar pular em mim, ela escorregou numa poça de água da chuva e acabou batendo a cabeça no chão. Ela acabou tendo que ir para o hospital. Ela ficou internada e depois foi diagnosticado que sua leucemia havia voltado.

Foi um tempo difícil. Eu a visitava quase todos os dias no hospital. Lembro-me da primeira vez. Entrei no quarto dela e uma enfermeira me disse para pôr a máscara, pois minha amiga estava praticamente sem imunidade. Assim o fiz. Era um dia frio, e quando a enfermeira saiu do quarto, deixou a janela aberta. Eu fui fechá-la e a água que estava no trilho acabou esguichando no rosto de Carolina, do lado de seu olho. Eu fui enxugá-la com meu dedo. Passei minha mão no rosto dela. Ela fixou os olhos dela nos meus. Ela podia estar doente, careca e pálida, mas para mim ela parecia tão linda... Foi naquele momento que eu descobri que a amava de verdade.

Ela acabou pegando uma gripe no hospital enquanto era tratada. E como sua imunidade estava baixa e ela estava com problemas respiratórios, ela foi encaminhada para a UTI. Passou-se uma semana e ela ainda estava internada sem poder receber nenhuma visita. Toda a família dela já estava sabendo e eu já não tinha mais certeza se veria ela viva outra vez. Chorei muito. Foram dias angustiantes. Minha vida parecia ter parado por causa da situação dela. Mas ela acabou tendo alta da UTI e voltou ao tratamento normal da Leucemia. E depois, se recuperou da Leucemia também.

Quando ela voltou às atividades normais, estávamos mais próximos do que nunca. E em questão de alguns meses, estávamos namorando firme. Durante algum tempo ela foi tudo o que eu queria na minha vida. Seu sorriso me alegrava mais do que qualquer coisa. Mas depois de uns 3 anos, parecia que nosso amor tinha esfriado. Brigávamos por tudo. Eu não sentia mais a mesma atração por ela. Acabamos terminando nosso namoro. Ela ficou muito infeliz. Ela só queria saber de mim. E como estávamos na mesma sala, era uma tortura para ela me ver todos os dias e não me ter. E eu acabei sofrendo com isso também. Nosso namoro não tinha dado certo, mas eu ainda me importava com ela. No fundo, eu ainda a amava. Ela tentou voltar comigo, mas não deu certo.

Hoje, nós estamos com 17 anos. A leucemia a atacou outra vez e ela está no hospital. Eu fui visitá-la, mas acho que só a fiz se sentir mal pela nossa situação. Nós não conseguimos viver juntos, mas também é uma tortura ficarmos longe um do outro. Só sei que ela se sentiu mal, além de por causa da doença, por minha causa.

Depois que ela adoeceu, tudo ficou escuro, literalmente. Eu não paro de pensar nela, queria fazer alguma coisa para ocupar minha mente, mas tenho medo de que chova e eu me molhe. Fico olhando o relógio. Esperando receber alguma notícia dela. Tic. Tac. Tic. Tac. Mas nada. Viro minha cabeça para olhar pela janela, ver se tem algo acontecendo lá fora. Nada além das nuvens se movimentando. O telefone toca. Me levanto e atendo. A pessoa do outro lado da linha tem uma voz melancólica. Carolina morreu. Não. Coloco o telefone de volta no gancho. Não. Não pode ser. Minha cabeça gira. Não, isso não pode ter acontecido. Quero fazer alguma coisa, mas não tenho a mínima ideia do quê. Carolina não pode ter morrido. Meu corpo está mole. Sento-me de volta na cadeira. Coloco as minhas mãos na cabeça. Estou desesperando. Não consigo entender como Carolina pode ter morrido. Não consigo entender a morte. Meus olhos começam a se encher de lágrimas. Não, isso não é possível. Não é possível. Olho para fora para tentar me distrair, e, para acompanhar minhas lágrimas, sinto uma única gota de água caindo do céu cinzento diretamente no meu rosto, do lado do meu olho.
 
 
 

Uma Palavra

Feliz Natal!


Natal é uma comemoração simbólica do nascimento de Jesus Cristo. Para a maioria das pessoas, o Natal é um dia para se passar com a família. Muitas pessoas consideram sua família a coisa mais importante que existe. Muito lindo, mas eu não escreveria um texto sobre isso.

Desculpem-me por só postar um único texto esse mês, e tão tarde assim. Mas não estive inspirado nos últimos dias.

Eu até tenho vários temas os quais quero escrever sobre. Só que não tive inspiração. É difícil falar sobre inspiração. Pois, algumas vezes, ela vem de uma música que eu ouço. Eu fico em um estado de espírito que me faz pensar como se eu estivesse passando pelo que quero escrever. Como, por exemplo, quando escrevi o texto “Simbolismo Negro”, estava ouvindo a música “Animal I Have Become” de Three Days Grace. Outras vezes, eu não concordo com uma música e escrevo algo para contradizer o que ela me faz sentir, como aconteceu com o texto “O Príncipe na Armadura Reluzente”, quando eu ouvi a música “Cannon” de Johann Pachelbel. Quando não é uma música que me inspira, é alguma coisa que alguém me conta, ou então uma imagem que eu vejo, ou o texto de outra pessoa.

O que aconteceu esse mês foi que eu não estava apto a me colocar no lugar de alguém. Estava muito preocupado com meus próprios planos e objetivos. Eu tenho várias ideias para textos prontas, mas não consigo me colocar dentro delas. E viver eu mesmo o que escrevo é o que faz com que meus textos fiquem belos e não os deixa cansativos. Pois, se eu escrevo algo como se eu estivesse vivendo isso, quem lê acaba também se identificando com o personagem.

Esse texto de hoje mesmo, Autopsicometeorologia, por exemplo: Já o tinha concebido em Novembro, quando uma conhecida minha (uma ex-namorada do meu primo) veio a falecer nas mesmas circunstâncias. Eu tive uma música que me inspirou a começar a escrevê-lo, “Everytime it Rains”, de Charlotte Martin. Só que acabei me cansando. Estava com outras coisas em mente e elas estavam me atrapalhando. O texto não estava ficando bom. Fiquei um mês sem inspiração para mexer nele. Mas hoje, ao passar o dia com meu primo, me lembrei muito dela. Como eu já estava meio deprimido nos últimos 3 dias, consegui dar continuidade no texto.

Uma coisa interessante sobre mim é que eu só escrevo quando estou deprimido. Eu geralmente só consigo expressar pela escrita sentimentos ruins, escrever sobre coisas boas é difícil para mim. Todas as minhas tentativas de textos felizes ficaram chatos.

Quando eu digo que estou deprimido, não é uma depressão profunda, de chorar e cortar os pulsos. Eu só fico parcialmente desencantado com tudo. Fico quieto, parado, preguiçoso, não vejo graça em dar continuidade no que fazia antes. E aí, fico observando o mundo. Analisar o relacionamento das pessoas faz com que eu me coloque no lugar delas. É isso que me deixa inspirado.

Eu poderia até descartar minhas aulas de filosofia e sociologia, uma vez que eu já tinha formado minha opinião a respeito de todos os conceitos que o professor passou, nesses dias em que estou meio deprimido. Realidade, Percepção, Objetivos, Certo, Errado, todo o básico que se aprende em uma aula de filosofia e sociologia, é possível raciocinar a respeito sem a ajuda de ninguém, só ponderando sobre os fatos que nos cercam no nosso dia-a-dia.

Quando eu fico inspirado, eu praticamente me desligo da minha própria vida. Esqueço o que estava fazendo, os meus objetivos, os meus planos, tudo. Realmente, eu viajo para outro mundo, me coloco no lugar de outra pessoa. Sofro um pouco do mesmo que os outros sofrem. E fico irritado com o fato de tantas pessoas nunca fazerem isso. Só ficarem atrás de seus próprios objetivos, de sua própria vida, acham que tudo é perfeito e nunca olham para o lado. Rejeitam-se a aceitar o que acontece a sua volta. São cegos, alheios aos outros. É por isso que eu escrevo. Eu gosto e quero que todas as pessoas que se consideram perfeitas, sofram com o que acontece aos demais.

Sei que meus textos são insuficientes para fazer qualquer diferença na vida de maioria das pessoas. Muitos os consideram somente lazer. Não raciocinam sobre as críticas que explicito nem ponderam sobre o que acontece às pessoas a sua volta. Sei que não adianta querer mandar no que as pessoas vão entender. Cada um tem um entendimento único a respeito de tudo na vida. Mas eu gostaria que as pessoas ao menos se tornassem mais humildes e menos ignorantes, a ponto de, ao lerem meus textos, apreciá-los da mesma forma que eu os aprecio quando os escrevo.


Atenciosamente,

domingo, 21 de novembro de 2010

Não dá Mais

-Amor, o que significa isso? – Ela disse, levantando uma garrafa vazia. Seu rosto era lindo, delicado, ela sempre me cativou.

Eu fingi que não sabia do que ela estava falando.

-Querido... Por favor... – Sua boca delicada sussurrava as palavras com dor. Ela parecia não gostar daquilo, e isso me fazia sofrer. Eu não gostava de vê-la com dor. Eu a amava mais que tudo no mundo. Ela continuou falando:
-Você se lembra daquele fim de semana que passamos só nos dois, juntos? Naquela cabana na praia, sem ninguém por perto?
-Sim... Aquela cabana que não tinha água nem luz.
-Mas a falta de água ou luz não tornou o nosso fim de semana ruim, pelo contrário... Foi muito bom, não se lembra? Nós apreciávamos os momentos simples... Eu ficava entre os seus braços, abraçando a sua barriga... E nós ficávamos vendo o pôr-do-sol...
-Sim. Foi muito gostoso mesmo... A água da praia era clara...
-Azul claro... E nós ficávamos vendo os peixes passando entre nossos pés...
-E foi em um momento desses que eu te beijei.
-É verdade... Eu amei aquele beijo... Doce, suave... Não havia nada que eu trocaria por estar lá.
-Eu também gostei daquele momento. Você estava sorrindo, e ver você sorrir é o meu maior prazer. Aquele fim de semana foi como um filme...
-Não. Como um filme não. Filmes não expressariam tudo o que nós sentimos um pelo outro. E filmes têm finais, às vezes felizes, às vezes tristes. E eu não quero que nosso relacionamento tenha um final... Eu só quero viver ao seu lado.
-Amor, você é linda. Eu te amo...
-Eu também te amo, querido, mas...
-Mas o quê? Você não está satisfeita?

Ela franziu as sobrancelhas. Parecia que ela ia chorar. Eu peguei no rosto dela com as minhas duas mãos. Os olhos dela estavam apertados e úmidos ao olhar para mim. Parecia que ela estava tímida, que queria se afastar de mim.
-É que nosso relacionamento tem se tornado muito difícil.

Ao ouvir suas palavras, minha cabeça doeu. Ela já estava doendo, mas ficou pior ainda. E eu também estava com tontura. Ela ergueu novamente a garrafa vazia e olhou para mim, mordendo os lábios, com o braço que não pegava a garrafa segurando o cotovelo oposto. Seus olhos ficavam cada vez mais úmidos.

-Você se lembra o que fez ontem à noite?
-Amor, nós já brigamos tanto por causa disso... Deixa isso pra lá...
-Eu não posso deixar isso pra lá – Sua voz era de choro – Eu não consigo deixar isso pra lá. Ontem a note você veio com os seus amigos para o nosso apartamento. Você bebeu com eles até perder o controle. Você não sabe como eu sofro de ver você urinando no guardarroupa, falando que não me conhece, caindo no chão de bêbado.
-Mas, querida... Eu não posso deixar os meus amigos...
-Verdade, mas você não precisava beber. Você tem sugado a minha felicidade ficando bêbado... Ontem à noite mesmo, você saiu com os seus colegas e ficou encoxando uma mulher que estava parada no ponto de ônibus... Você sabe como eu sofro por tudo isso?
-Sim, amor, mas se eu não beber, o que eu vou fazer com os meus amigos? Eles só fazem isso... Eu vou ficar sóbrio e só assistir a eles loucos?
-Mas eu assisto a você louco todos os fins de semana... E eu te amo, mais do que você ama aos seus colegas... E isso me faz muito mal – Ela disse, derrubando uma lágrima que escorregou por todo o seu rosto e caiu no chão. Eu queria morrer. Eu estava a fazendo sofrer, muito, e isso me flagelava mais do que qualquer coisa. Mas eu também não podia mudar o meu eu por ela. Eu sou assim. E eu quero ser assim.
-Querida, sinto muito... Mas eu não posso me mudar. E eu não vou deixar os meus amigos.
-Eu entendo você... Mas acho que você não entende o meu sofrimento.
-E o que você quer que aconteça, então?
-Sinto muito, mas não dá mais. Eu sofro muito de ficar longe de você, mas tenho sofrido mais ainda por vê-lo fazer tudo o que você tem feito. Eu acho que os tempos de felicidade do nosso relacionamento já passaram, assim como o nosso fim de semana naquela cabana. Eu não quero mais ficar ao seu lado.

Ela começou a chorar alto.
-Querida, por favor, eu faço o que você quiser...
-Você vai mudar o seu comportamento a respeito do álcool? – Ela perguntou, entre soluços.
-Vou tentar...
-Sinto muito, mas só tentar não basta. Eu precisava que você mudasse. Não dá mais para continuarmos juntos assim.

sábado, 6 de novembro de 2010

As Duas Faces do Amor Incondicional

Minha primeira postagem que não é um texto. Para ver melhor, clique na imagem:
Os personagens não existem, são fakes.

sábado, 30 de outubro de 2010

O Lugar Onde a Felicidade Existe


 Ana subia a colina, correndo por entre flores de diversas cores. Seu pequeno vestidinho azul esvoaçava ao vento, seu cabelo loiro balançava com seus pulinhos. Lá em cima, ela correu em volta de uma árvore, dando gargalhadas, como se procurasse algo. Então a brisa ficou mais forte e sementes de Dente de Leão caíram da copa da árvore e ficaram suspensas no ar, no formato de uma pessoa.

 O vento soou como se fosse uma voz humana, dizendo “ora ora, você me achou de novo!” Ana deu uma gargalhada infantil e sorriu para as sementes. Depois disse “é fácil encontrar você, Josh”.

 Em um piscar de olhos, as sementes se espalharam e caíram no chão. Ana saiu correndo de novo, descendo a colina, e entrando na floresta. Chegou a uma clareira onde o chão era de rocha e pelo meio dela passava um riacho, repleto de flores cor de rosa boiando nele. Deu alguns passos leves, olhando em todas as direções, a busca de Josh. Mas não percebeu que mais uma vez a brisa tomou uma forma humana, dessa vez fazendo flutuar flores lilás, bem atrás dela.

 Repentinamente, um colar de flores roxas caiu sobre Ana e fixou-se em seu pescoço. Ela deu um gritinho de susto, mas depois deu outra risada infantil. Ela se virou e abraçou Josh, mesmo ele não tendo um corpo de verdade. Ele também riu, junto com ela.

 “Eu te amo Josh, não quero nunca te perder” ela disse, “Eu também te amo” ele respondeu. Então eles ficaram deitados na grama, a beira do riacho, olhando um para o outro e sorrindo. Agora, Josh era formado por folhas cor de laranja, como as do outono.

 -Josh, eu estou ouvindo vozes.
 -São os seus pais te chamando. É hora de você voltar para o seu mundo.
 -Eu não quero voltar para o meu mundo!
 -Mas você tem. Você não pode ficar aqui para sempre.
 -Mas Josh! Eu quero ficara aqui! Minha vida não faz sentido lá, ela pertence a aqui! Eu não quero viver lá, sem você!Você é a única coisa que eu amo!
 -Mas Ana, você tem os seus pais...
 -Eu só sou uma pessoa de verdade aqui! Lá eu não sou ninguém! Lá, minha vida não faz sentido! Meus pais não ligam para mim, eles estão sempre brigando... Por favor Josh, não me deixe ir... Eu te amo...
 -Sinto muito, mas essa escolha não é minha... Eu também te amo...

 Ana viu tudo ao seu redor ficando escuro. As folhas que formavam Josh passaram do laranja para o marrom, e depois se despedaçaram e se desintegraram. Ana foi sendo puxada para a escuridão.

 Até que abriu seus olhos vagarosamente. Ela viu a parede de seu quarto, feito de blocos sem rejunte. Estava com frio. Seu pai devia ter acabado de chegar. Estava com voz de bêbado, gritando coisas do tipo “Sua vadia, como deixou o meu jantar esfriar?!” para a mãe de Ana. E de resposta, Ana só ouvia os choros dela.

 Então Ana derramou uma lágrima, que caiu no travesseiro cuja fronha tinha estampa de singelas florezinhas. “Josh, por que você me deixou?”

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Indiferença


 Feliz Dia de Nossa Senhora Aparecida; Dia das crianças não é feriado.
 Outro texto antigo, dessa vez uma crônica:

Suzana odiava aquele emprego. Ela trabalhava no diário local, mas não era repórter. Ela andava o dia inteiro pela cidade procurando pessoas sem importância nenhuma para dar avisos, discutir sobre coisas inúteis ou analisar se há a possibilidade de o caso delas virar uma notícia, para depois uma pessoa mais importante do que Suzana entrevistá-la.

Já passava das sete horas, era inverno e a noite era fria e escura. Suzana dirigia um pequeno e apertado uno branco com adesivos da empresa. Aquele era seu último destino do dia, ela deveria levar a notícia da vitória ao vencedor do concurso de redações do jornal. O problema era que ele morava em um complexo de difícil acesso. As ruas eram escuras, cheias de buracos e quase impenetráveis. Suzana já estava ante a última rua antes da do seu destino. Era uma grande ladeira, as rodas do carro escorregavam na lama e os buracos e pedras fizeram a parte de baixo do carro ser atingida inúmeras vezes. As rodas derrapavam enquanto o carro continuava parado.  Ela parou de acelerar e desceu vagarosamente o pouco da rua que ela tinha conseguido subir.

Estacionou lá mesmo e desceu do carro. Ela estava de salto alto e seria difícil subir a mesma rua. Mas ela viu uma escadaria a alguns metros de distância, no meio do morro, que provavelmente daria no mesmo lugar. Resolveu seguir por ela. Alguns postes de luz iluminavam um pouco a escada em algumas partes, mesmo assim ainda era muito escuro. Podia-se ouvir o som de grilos, pessoas conversando e música em algum lugar distante. Os degraus eram irregulares e isso acabou deixando Suzana cansada. Ela avistou um pouco à frente, de baixo da luz de um dos postes, uma pessoa que andava de um lado para o outro. Usava roupas grandes, largas, provavelmente doadas. Um capuz escondia sua face. Ela ficou temerosa. Por quais motivos uma pessoa ficaria àquela hora andando de um lado para o outro, no meio do nada?

Ela achou melhor desviar, entrando em uma viela que ligava um dos patamares da escada à rua. Subindo a ladeira ela ficou mais cansada ainda. Passou na frente de um bar, de onde vinham as vozes e a música. Vários homens, todos de aparência horrível, desleixada, bebiam cerveja e riam alto. Provavelmente, todos bêbados. Era horrível de se ver aquilo. O que leva uma pessoa a aceitar isso como estilo de vida? Ela passou reto. Achou que os homens iriam mexer com ela, mas nem a notaram. Para sua sorte, o bar não era tão longe da rua do garoto. Ela foi até a casa que deveria ser onde o garoto morava. Ela bateu na porta. De dentro, ouviu gemidos e murmúrios. Ninguém apareceu. Ela bateu novamente e esperou um pouco.

Uma mulher gorda, toda descabelada e com os olhos inchados abriu a porta. Suzana pensou que ela provavelmente também estaria bêbada.  A mulher disse:
- “Quié”?
- Olá, eu sou Suzana, representante do Jornal local, e queria anunciar que o garoto Eduardo Souza venceu o concurso de redações que foi feito na escola dele.
A mulher fez uma careta. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ela respondeu:
- Ele se suicidou...

Suzana ficou paralisada. Isso foi um choque. Ela não esperava isso. Sua respiração ficou descompassada. Ela não sabia o que fazer. Quando conseguiu se recuperar um pouco, disse “obrigada” e deu as costas para  mulher, que fechou a porta sem dizer nada. Suzana não conseguia parar de pensar nisso. Olhou os papéis, o garoto devia ter somente 16 anos. Por que motivo uma criança dessas iria se suicidar? Como deveria ser a vida dele, para chegar a esse ponto? Isso foi aterrorizante. Surpreendente. Ela não tinha palavras para descrever. Quem diria que um trabalho no diário como o dela poderia ser tão emotivo? Ela jamais havia imaginado passar por uma situação dessas.

Quando ela notou que estava descendo as escadas ao invés de seguir pela rua para não passar pelo garoto estranho, já era tarde demais. Lá estava ele, andando de um lado para o outro ainda, alguns metros a sua frente. Ela ficou com medo. Achou melhor seguir reto, indiferente, para não chamar atenção nem levantar suspeitas. Quando ela saiu da escuridão para a luz onde o garoto se encontrava, com seus passos rápidos e expressão indiferente, ele se jogou para o lado e ficou em posição defensiva. Ele se assustou com Suzana. Ela pôde olhar dentro do capuz. Era um garoto muito novo, devia ter 13 anos. Seus olhos expressavam medo, receio, preocupação. Suzana, surpreendida, ficou paralisada por um instante, mas logo o medo a fez sair de lá e continuar seu caminho. Seu coração estava quase pulando para fora da garganta garganta. Ela não conseguia pensar em nada até terminar de descer as escadas. Entrou no carro.
Enquanto voltava para a sede do diário, pensava nos acontecimentos daquela noite. Por que motivos o garoto havia cometido suicídio? E o outro que estava nas escadas, estava preocupado com o quê? Ela começou a se sentir culpada. Talvez o que se assustou com ela também estivesse pensando em suicídio. E na hora, ela só estava preocupada em sair logo de lá. Talvez o garoto precisasse de atenção, e ela pudesse fazer alguma coisa. Mas não. E agora ela estava indo para a sede do jornal e depois para casa, para poder tomar um banho e dormir em sua confortável cama.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Simbolismo Negro


 Você sente o sangue fervendo em suas veias. Sua visão embaça, e você fica sem saber o que fazer. Sente o sangue bombeando dentro da sua cabeça. Sua respiração fica ofegante. Você aperta tanto os seus pulsos que eles chegam a doer. Se visse seu rosto no espelho, provavelmente ele estaria vermelho.

 Alguma coisa acontece dentro da sua cabeça. Você fica sem paz. Você fica revoltado. Você fica furioso. Sente como se houvesse um parasita dentro do seu cérebro, fritando e depois comendo seus neurônios. E ele comanda todos os seus atos.

 Quando você volta a si mesmo e olha para trás, vê um rastro de destruição. Acabou com tudo o que havia sido construído. Quando você retoma seu autocontrole, vê assolados todos os seus objetivos, seus sentimentos, seu relacionamentos.

 Você destrói a si mesmo. Como um arranha-céu sendo construído por tentáculos escuros de crueldade. Bloco sobre bloco, eles vão se erguendo e ficando mais altos. Mas ao mesmo tempo, para se movimentarem dentro do prédio, eles acabam destruindo andares inferiores. Porém eles não param de subir. Só vão se equilibrando para não irem ao chão. Construindo para chegar a lugar nenhum. Destruindo para se manter vivo. Assim como você faz com sua vida.

 Às vezes, uma gota de água fresca penetra no seu cérebro, afastando o verme por alguns segundos. Você vê que o que tem acontecido não é bom. Deveria ser diferente. Você gostaria que fosse diferente. Você até se disporia a fazer tudo diferente, começando do zero. Mas logo o parasita retorna e frita os seus neurônios. Você sente seu sangue quente em suas veias novamente. Você volta a enxergar embaçado. Fica furioso e retoma sua auto-constru-destruição.

 Como se houvesse um monstro dentro de você. Construindo coisas e depois as destruindo por diversão. Todos os seus relacionamentos, sentimentos e objetivos partidos em milhares de pedaços. Você se importaria, se tivesse tempo. Mas o monstro te impede de pensar. Não te deixa sentir culpa. Ele só quer continuar destruindo. E você não está mais nem aí com sua própria vida, enquanto o monstro comanda ela. E você não consegue se livrar desse monstro, por que não é você que toma conta dele. É ele que toma conta de você.

 Você pode achar que os tentáculos de crueldade destroem o seu prédio, por isso são ruins. Mas na verdade, o objetivo deles é só construir. Eles só tentam te proteger, te trazer progresso. É que o meio que eles encontram para fazer isso é destrutivo. Eles aumentam sua altura, mas para isso destroem sua fundação. Acabam destruindo o que construíram. Mas o objetivo deles era só proteger o seu prédio.

 O parasita entrou na sua vida naquele dia em que o cão te mordeu. Na hora você não percebeu, mas os vermes dos dentes do cachorro penetraram em seu sangue. Por isso que você sente suas veias quentes. Depois ele acabou indo para o seu cérebro para fritar e comer os seus neurônios. Aí os tentáculos de crueldade mudaram totalmente o seu prédio, construindo o topo e destruindo a fundação. E o que você pode fazer? Nada. O monstro que te controla, não é você que controla ele.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Uma pedra sobre mim

 Meu trabalho de literatura sobre vanguardas.

Uma pedra sobre mim

chuva
o céu carregado
de nuvens escuras
como sempre
o dia cinzento
todos de preto
lágrimas nas faces
tudo isso por mim

por que eu achei
 o que procurava

uma boca retorcida em agonia
um desesperado de joelhos no chão
olhos cerrados repletos de lágrimas
tudo isso por mim

por que eu achei
o que procurava

estático
pálido
gélido
uma pedra sobre mim
escrito descanse em paz

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amoras Secas

Planos de quando eu era jovem. Queria estudar, fazer direito em uma faculdade boa e me tornar um bom advogado. Queria casar com uma mulher loira, dos olhos azuis, que seria uma ótima parceira sexual, e nós teríamos dois lindos filhos, que também se formariam e me dariam lindos netos.

Eu sempre quis isso da minha vida. E sempre me esforcei ao máximo para alcançar os meus sonhos. Quando ainda estava no colégio, dando duro para conseguir passar em um bom vestibular, encontrei ela. Meu time de futebol acabara de vencer um jogo, e eu estava comendo amoras das amoreiras que tinham em volta do campo. Estava com a mão direita entre as folhas da árvore, procurando pegar somente as frutas mais pretas, quando senti dedos macios sobre os meus.

Espantado, olhei para o lado, e me deparei com a moça mais bonita que eu já tinha visto na minha vida. Ela era como em meus sonhos, cabelo loiro, pele branca, lisa, olhos azuis. Suas unhas eram grandes e pintadas com esmalte vermelho. Ela usava um vestido branco que deixava os joelhos amostra. Nunca a tinha visto antes, provavelmente era nova no colégio. Percebi que sua respiração foi acelerando enquanto olhávamo-nos nos olhos. Seus dedos macios e quentes ainda estavam sobre os meus.

Mais do que depressa, comecei a conversar com ela, perguntando em que ano estava, onde morava, o que gostava de fazer, e o seu nome. Ela se chamava Anna. Um nome simples, belo e humilde. Passamos horas conversando, até o sol começar a se pôr e ela precisar ir embora. Só então reparei que em minha mão havia amoras secas. As que nós pegamos juntos na árvore. Poderiam ser verdes, rosas, vermelhas, pretas. Mas eram duas amoras secas, marrons, perfeitas para serem guardadas como o dia do nosso encontro.

Um ano depois, eu estava na faculdade. Não consegui entrar nas que eu pretendia. Não era nenhuma federal, nem disputada. Mas meus pais estavam pagando uma faculdade de direito para mim. Meu relacionamento com Anna pode não ter sido perfeito durante todo o nosso namoro, mas superamos nossas brigas. No meu último ano de faculdade, ela engravidou. Talvez o choque tenha me atrapalhado um pouco nos estudos, mas consegui me formar. E poucos dias depois da festa de formatura, foi a nossa festa de casamento.

Foi um momento feliz. Eu a amava mais do que tudo no mundo. E ela também me amava. Nosso primeiro filho se chamou Felipe. Os primeiros anos de nosso casamento foram difíceis. Brigas frequentes, um filho para criar, alimentar, eu não conseguia me firmar em nenhum escritório, meus salários eram baixos, isso quando ele existia, sem falar dos ciúmes de recém-casados.

Depois de um tempo, consegui um emprego fixo. Não era um escritório de primeira classe, mas o meu salário era alto o suficiente para não deixar nossos filhos passarem necessidades. Filhos, por que dois anos depois de ter o Felipe, tivemos gêmeos, Guilherme e Gustavo.

Um dia, voltei para casa mais cedo. Tive um árduo dia de trabalho, o meu carro quebrou e tive que pegar um ônibus. Sorte que meu chefe tinha me liberado mais cedo, por que era o aniversário de onze anos do casamento meu e de Anna. Nossos filhos tinham ido a um acampamento do colégio. Eu esperava que tivéssemos um bom jantar juntos, não precisava nem de velas. Só me importava passar um tempo com ela. Mas ela não estava nem na cozinha quando cheguei. Estava no quarto, transando com outro homem. O cara saiu correndo e se vestindo pela mesma porta que eu saí, cinco minutos depois dele. Fiquei uma semana fora de casa, preparando os papéis para o divórcio. Mas no final, perdoei-a e voltei a morar com ela.

Tivemos outra crise em nosso casamento quando eu quis fazer um teste de DNA em nossos filhos. Ela alegava que eu não confiava nela. E estava certa. Voltamos a morar juntos, mas nosso relacionamento nunca mais foi o mesmo. E eu tinha razão em fazer o teste. Felipe, o nosso filho mais velho, e motivo do nosso casamento, não era meu de verdade. Mas, ao menos, eu ainda tinha certeza dos gêmeos, e alguns meses depois o nosso casamento voltou quase ao normal.

Guilherme e Gustavo eram as únicas coisas que me faziam suportar o desgosto que eu tinha com o meu casamento. Até que eles também se tornaram um desgosto. Quando eles tinham dezessete anos, encontrei Guilherme beijando outro garoto dentro de casa. Meu alívio foi que pelo menos o Gustavo era heterossexual e daria continuidade à minha descendência. Isso se, as minhas brigas freqüentes com Anna e o comportamento de Guilherme não o tivessem dado depressão e o feito cometer suicídio aos dezenove anos, antes de ter um filho.

Hoje, sou divorciado. Não sei do paradeiro de Anna nem de Felipe. O enterro de Gustavo já foi há sete anos e Guilherme está morando com um rapaz. Não tenho nada de valor a não ser uma casa caindo aos pedaços e um carro velho. E um par de amoras secas, que guardei como lembrança de um momento feliz. Amoras secas. Eu e Anna já tínhamos sido jovens, cheios de sonhos e paixões. Mas agora estamos velhos e amargos. Como amoras secas.

sábado, 28 de agosto de 2010

Amor Eterno

-Oi querida.
-O que você quer? Eu já não disse que não era mais para falar comigo?
-Por favor, me deixe entrar. Eu só quero conversar um pouco.
-Não, não vou deixar. Nós não temos mais nada um com o outro.
-Não quero falar sobre nosso relacionamento. Por favor, abra a porta.
A mulher bufou. Mas o deixou entrar. O rapaz andou um pouco pela sala antes de se sentar no sofá.
-Você parece confiante, diferente da última vez...
-É que eu vi que você estava certa. Não há como restituir o nosso relacionamento.
-Que bom que você percebeu isso. Mas por que veio aqui?
-Eu só quero me abrir com você.
A mulher deu passos leves e se sentou ao lado dele.
O rapaz pegou a carteira do bolso e tirou algumas fotos de dentro, para ficar olhando.
-Você quer falar sobre a sua família?
-Não. Eles não são a minha família.
-Então, quem são?
-São pessoas que eu matei. Eu sou um assassino. – Ele riu. Ela riu depois dele.
-É sério, quem são... – Ela começou a dizer, mas não pôde terminar, pois seu celular tocou.
-Desculpa, você pode esperar um pouco?
– Tudo bem.
- Alô. Não. Aqui não tem ninguém com esse nome. Tudo bem.
-Foi engano?
-Foi sim. Odeio quando acontece isso.
Ela colocou o celular sobre a mesa. Cruzou as pernas e repousou as mãos sobre elas, pronta para ouvir o rapaz. Mas ele não olhou para ela. Ele simplesmente pegou o próprio celular e ligou para um número que ela não pôde ver.
-Alô? Oi cara. Sabe aquela minha ex? Não estou conseguindo falar com ela. Acho que nem vou voltar aí, vou direto pra casa. Tá bem. Falou.
-Por que você disse que não conseguiu falar comigo?
-É que eu não quero que fiquem sabendo que eu vim atrás de você outra vez.
-Ah sim... Você ainda não me disse o motivo de vir aqui.
-Ah, sinto muito. Os últimos dias têm sido tão difíceis para mim...
Repentinamente, como se já tivesse em mente o que faria, o rapaz se levantou, pegou de cima da mesa o celular da mulher e o jogou na parede, fazendo-o partir-se em vários pedaços.
-Ei! Por que você fez isso?
-Fiquei com vontade.
A mulher se levantou e deu alguns passos para trás.
-Acho melhor você ir embora. Eu preciso dormir cedo. Vou trabalhar amanhã. - Ela disse.
-Sinto lhe informar, mas não vai não.
A mulher se virou e tentou correr para fora da casa. Mas o rapaz a alcançou e a sufocou até ela perder a consciência.
Quando ela acordou, estava nua, com os pés e as mãos presos a uma mesa por algemas.
-Pare com isso! O que você quer de mim?!
-Eu queria o seu amor.
-Você vai conseguir amor me estuprando e me matando?!
-Prefiro ver minha amada morta a ser rejeitado por ela. E não se preocupe, eu não te estuprarei.
-Você vai ser pego! E vai para a cadeia!
-Não vou não. Sabe aquelas pessoas das fotos? Elas já estiveram no seu lugar. E eu ainda estou com a minha ficha limpa na polícia.
-Você é doente! Por que fica conversando comigo?! Por que não me mata logo?!
-Você tem razão. Eu sou doente. E eu queria me divertir um pouco, depois que você me largou. Por isso não te mato logo.
-Eu pensei que podia confiar em você...
-Você podia. Se não tivesse me largado.
Depois de dizer isso o rapaz passou a mão no rosto dela. Ela começou a chorar alto, em agonia. Então ele se levantou, pegou um pano e a amordaçou.
A visão da mulher estava turva por causa das lágrimas, mas ela conseguiu ver seu ex-namorado encostando um martelo na testa dela. Então ele disse:
-Só vai doer um pouquinho.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Abismo


Eu estou aqui. Deitado na água quente da minha banheira. Ouvindo o Canon em ré menor de Pachelbel, no meu aparelho de som de ponta. Qualidade máxima. Estou tranquilo. Vendo o vapor subir da água, embaçar o espelho do meu banheiro. E admirando a decoração do mesmo. Afinal, contratei um decorador somente para fazer isso. A espuma também é muito relaxante. Eu não poderia estar em um lugar melhor. A água quente envolvendo meu corpo, me tranquilizando. Estou com um livro em mãos, mas não estou lendo agora. Também tenho uma cesta com frutas, uvas claras e escuras, maçãs, peras. Tudo ao meu dispor. Se eu quiser alguma coisa fora disso, posso chamar minha empregada para me trazer. Eu tenho tudo o que quero.

E o melhor de tudo, estou sozinho. Sem pessoas menores, como você, por perto de mim, para me invejarem e falarem de mim. Aposto que você não tem nem uma banheira em casa. Quem dera tivesse uma suíte como eu. Provavelmente seus banhos são rápidos e você mal fica debaixo da água. De baixo da água, por que com certeza é um chuveiro comum. Quando sai do banho, se embrulha em uma toalha mofada e passa frio até se trocar. Muito frio, por que estamos no inverno gelado, e você não tem a sorte de ter uma casa quente e uma banheira aquecida, como eu.

De sábado, você provavelmente sai com seus amigos favelados para um bar. Bebem até passarem mal. São pessoas sem estilo nenhum e sem propósitos na vida. Eu, aos sábados, vou com minha família a algum teatro para assistir uma peça bem comentada ou até mesmo uma ópera.

Você, aos fins de semana, vai a baladas toscas e se prostitui, beijando várias pessoas diferentes. E a propósito, feias. Meus romances são de qualidade totalmente superior. Ou eu vou à casa de minha namorada, ou ela vem à minha. Ela é linda, vai a salões de beleza, se produz. É a perfeição. Pois ela também tem dinheiro, assim como eu, e diferente de você e das pessoas que a vida de baixa sociedade o força a passar as noites com.

Minha vida é totalmente diferente da sua. Eu tenho dinheiro, tenho luxo. Não passo necessidades, tenho sempre conforto máximo. E você nunca tem nada. Passa frio, talvez fome, não tem condições de ter tudo o que deseja. Ainda bem que eu não tenho que me preocupar com pessoas do seu nível. Continuo aqui na minha banheira aquecida, apreciando minha própria vida. Não me importo com pessoas como você. Gentalha inútil. Agradeço por estar afastado de toda essa vida desclassificada, repugnante e medíocre que você leva.

Macacos das Neves, minha fonte de inspiração para o texto

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Luzes


Ela fechou a porta de ferro com força, fazendo ecoar um estalido metálico. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Ela jogou suas costas na porta e se apoiou nela com as palmas das mãos. Seus joelhos estavam meio flexionados, ela estava cansada e fraca. Ela chorava. Acabou escorregando e caindo no chão. Pôs seus dedos em meio a seus lábios enquanto soluçava e balançava a cabeça negativamente, apavorada. Sua angústia era tremenda que ela não conseguia pensar. Sua visão estava embaçada e ela soltava alguns gemidos de sofrimento. Seu coração palpitava desordenadamente, forte, porém lento. Ela tremia das mãos aos pés.

Reuniu forças para conseguir levantar. Ela tinha conseguido se controlar um pouco. Não soluçava nem gemia, porém ainda chorava. Seus passos eram vagarosos, ela mantinha as mãos na boca. Uma rajada de vento soprou em seu cabelo, ela pôs uma das mãos à frente como se tentasse se proteger dele. A água em seus olhos foi se dissipando e ela pôde distinguir alguns pontos pequenos de luzes amarelas. O barulho do vento e dos carros, vários metros abaixo dela, na rua, era até tranqüilizador. O cheiro era de fungos e umidade. Ela olhou para o horizonte. Vários prédios emitiam seus pequenos focos de luz. Não havia uma única estrela no céu, nem lua, mas mesmo assim era lindo. Lindo. Ela deu um longo e demorado soluço de choro. Não compreendia como existem coisas lindas no mundo... E que não podem ser aproveitadas.

Deu mais alguns passos vagarosos em direção ao parapeito da laje do prédio. Sentou-se no pequeno muro que separava o lugar onde ela estava do resto do mundo. Olhou para baixo. As luzes vermelhas e amarelas dos carros passavam rapidamente lá na rua. Seus olhos se desfocaram e ela voltou a chorar. Jogou-se no chão e abraçou seus joelhos. Gemia negando algo, sofria de angústia. Dava socos no chão acertando uma poça d’água, não acreditava na vida. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Seus gemidos eram longos e sofridos, como se ela fosse a pessoa mais apavorada do mundo.

Ainda chorando, ela apoiou uma das mãos no parapeito e outra no joelho, e se levantou, vagarosamente. Mais uma vez viu as luzes da cidade, e o vento bateu em seu cabelo. Ela colocou um dos pés na mureta, e depois deu um impulso para subir com o outro. Abriu os braços em forma de cruz. Ela ainda chorava, fazendo mais barulho do que antes. Suas lágrimas já não caíam na laje do prédio, mas sim seguiam uma longa queda até a calçada da fachada. O vento estava desordenado aquele dia. Fez a camisa dela esvoaçar e a tirou o equilíbrio. Em um movimento não calculado, ela conseguiu se reequilibrar. As luzes, os sons e o vento faziam aquele momento perfeito para acabar com todo o seu sofrimento.

domingo, 18 de julho de 2010

O Príncipe na Armadura Reluzente

O jardim do castelo de meus pais é lindo. Ele é cheio de flores de todas as cores, que deixam seu doce perfume no ar. A luz do sol penetra por entre as copas das árvores, aquecendo minha pele. Eu sentada em uma escada de mármore, na passagem que leva do portão da muralha à entrada do castelo. Escutava o vento balançando as árvores e os pássaros assoviando encantadoras melodias. De vez em quando dava para ouvir vozes de súditos discutindo alguma coisa no pátio, e, ao fundo, uma voz grave gritando ordens. E também, o som de... Um cavalo relinchando. Em dias normais, não era para haver cavalos dentro dos muros do castelo. Isso só podia significar uma coisa. O príncipe havia chegado.

Levantei as várias camadas do meu vestido azul e saí correndo o mais rápido que pude – ainda assim a passos curtos – para encontrá-lo. Deparei-me com ele, ainda passando pelo portão da muralha, montado sobre seu cavalo, um Puro Sangue Árabe de cor negra. Ele estava usando uma armadura prateada que reluzia à luz do sol. Por mais que ele usasse elmo e eu não pudesse ver seu rosto, eu sabia que era ele, o meu príncipe encantado. Ele falava com um soldado do portão, até que se voltou a mim. Ao me perceber, ficou estático. Então ele levou as mãos à cabeça, retirou o elmo e balançou seus longos cabelos loiros ao vento. Ele estava mais lindo do que nunca. Seu queixo fino, seu rosto triangular, seus olhos profundos e seu nariz delicado, todos seus traços de bebê continuavam explícitos depois de anos.

Ele levantou a mão direita para mim e disse:
-Saudações, princesa. Cada vez que te vejo, está mais bela do que antes. Se não for incômodo agora, eu gostaria de dar uma volta pelo reino contigo.
-Mas agora, sem avisar mamãe e papai? – Minhas palavras com que ele recuasse um pouco.
-Se não for incômodo, é lógico – Ele disse, abaixando a cabeça, e seus olhos fixos em mim, me olhando com um sorriso travesso.
-É lógico que eu aceito.
Eu sorri. Não queria dar esse furo com o príncipe da minha vida.
-Que bom.
Então eu peguei sua mão e ele me puxou para a parte de trás do cavalo. Ele colocou o elmo novamente, deu uma meia volta com seu Puro Sangue Árabe, fez um sinal para o guarda e puxou as rédeas.

Fora do castelo, o cavalo corria a máxima velocidade. Eu me segurava na parte estreita da armadura do príncipe, na altura da barriga, para não ser jogada para o lado pelo sacolejo do cavalo. Meu cabelo voava ao vento e meus olhos se cerravam ao serem machucados pelo vento. O príncipe se mantinha ereto sobre o cavalo. Diferente de mim, ele pouco balançava. Passamos por toda a parte rural do reino, as casinhas de pedra e madeira dos plebeus, as grandes plantações coloridas que geravam alimento para toda a população. Chegamos aos limites entre a área habitada e a floresta. Ele continuou conduzindo o cavalo pela estrada de terra entre as árvores do bosque. Acabamos saindo do caminho principal, pegando uma trilha quase imperceptível no meio da vegetação. Ele parou o cavalo em frente a uma casinha de madeira no meio do nada. A clareira onde nos encontrávamos era limpa e cheia de flores. A luz do sol penetrava por entre as copas das altas árvores que nos cercavam. O ar era fresco, era gostoso respirar ali. Não era possível ouvir nenhum som, fora os da natureza: a civilização estava longe.

Ele desceu do cavalo, e depois me ajudou a fazer o mesmo. Estávamos um de frente para o outro quando ele tirou o elmo e pegou em meu queixo, aproximando nossas faces. Ele disse “Eu te amo, te amo muito”, e eu respondi “Eu também”, antes dele pegar em minha nuca e começar a me beijar. Eu também tentei pegar em sua nuca, mas a armadura me atrapalhou. Ele deu alguns passos para trás e desprendeu as cintas que firmavam a armadura, deixando-a cair no chão e mostrando uma cota de malha. Depois, tirou também a cota, revelando um corpo definido, forte, digno de um príncipe dos sonhos.

Ele disse:
-Amo-te demais. Vejo-te todas as noites em meus sonhos. Por muito tempo, fiquei contando os segundos para te ver novamente. Não sei o que faria se não tivesse o teu amor.
Fiquei sem o que responder. Não me vinha à mente nada o que eu pudesse falar. Aproximei-me dele, com o intuído de dar-lhe um beijo. Eu não poderia estragar o clima naquele momento. Mas minha insegurança não me permitiu encostar meus lábios nos dele.

Minha sorte que ele fez isso por mim. Ele me pegou de uma maneira difícil de descrever. Senti-me como se fosse posse dele. Ele levou as mãos nas partes mais sensuais do meu corpo. Ergueu meu vestido. Foi me levando para dentro da pequena casinha. Eu tive uma sensação estranha, mas não podia furar com ele. Ele sabia o que estava fazendo. E nós nos amávamos. Se alguma coisa fosse acontecer lá, já estava na hora.

Enquanto nos beijávamos, ele tirou a parte inferior da armadura, e depois a parte inferior da cota de malha, ficando somente com sua roupa íntima. Eu me deixei cair sobre a cama que havia lá. Ele foi colocando as mãos nas minhas coxas e erguendo meu vestido, até eu me encontrar inteiramente nua, e ele também. E aí rolou.

Eu me sentia nas nuvens. Estava plenamente satisfeita. Meu coração se enchia de amor e de prazer. Ele era tudo para mim. Meu príncipe da armadura reluzente. Minha fortaleza. Meu amor.

Quando tudo estava acabado, e meus pensamentos tinham se organizado novamente, eu estava deitada na cama. Vi a mancha de sangue sobre o lençol. Eu não era mais virgem. Mas pelo menos fiz isso com alguém que, naquela hora, eu tinha certeza que me amava.

Então olhei pela janela e vi o meu príncipe lá fora, já com a armadura vestida.

Ele disse “Meio bobinha, mas deu pro gasto” antes de montar no cavalo e ir embora, me deixando sozinha lá.

sábado, 12 de junho de 2010

Você Deu Errado

Uma criatura humanóide. Uma cabeça, dois braços e duas pernas. Talvez a criação de um cientista, ou um sobrevivente de uma explosão nuclear, ou a tentativa de pais terem um filho.

Uma criatura deformada. Com as costas curvadas, os ossos da espinha aparentes. As costelas saltando para fora da barriga, as pernas e os braços finos demais. Um lado do corpo maior que o outro, fazendo mancar.

Essa criatura é você.

Criado para uma finalidade. Tentaram obter um bom resultado, mas acabaram conseguindo você. Você não é como esperavam. Trabalharam duro para fazer algo perfeito. Mas deu errado. Você deu errado.

Das outras vezes, obtiveram humanóides perfeitos, eretos, simétricos, lisos, do tamanho certo. Ao te produzirem, fizeram tudo como deveria ser. Mas por uma questão de azar, você deu errado.

Você não pode fazer nada. Está fora da sua capacidade, que já é bem limitada, mudar você mesmo para melhor. Eles já tentaram te consertar. Mas não deu certo. Você não tem conserto. Você já foi criado assim. Não há como te mudar. Você deu errado.

Você é uma decepção. Um fardo. Você é um peso para os seus criadores. Eles não podem te deixar junto com os humanóides perfeitos. E não podem te jogar no lixo. Eles não conseguem achar nenhuma utilidade para você. Não sabem o que fazer com você. Você só ocupa espaço, e não ajuda em nada. Queriam voltar atrás, te refazer, ou então te descartar. Mas agora já não dá mais. Por que você é responsabilidade deles. E você deu errado.

Você não tem utilidade para ninguém. Você é um peso. Mas os seus criadores te criaram. Não te podem descartar, mesmo que você só traga problemas para eles. E afinal, você continua sendo uma aberração. Um fardo. Você deu errado.

E isso vai ser sempre assim. Nunca vai mudar. Você já nasceu assim. E vai ser assim para o resto da sua vida. Da sua vida fútil. Observando os humanóides perfeitos, enquanto se contenta em ser uma aberração. Um problema na vida dos seus criadores. Uma aberração que deu errado. Você deu errado.

O que você é mesmo? Talvez a criação de um cientista, ou um sobrevivente de uma explosão nuclear, ou a tentativa de pais terem um filho.
A tentativa de pais educarem um filho. Que deu errado.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nem por um Momento

Fazia tempo que eu não falava com Ela. Lembro-me de quando passávamos quase todos os dias juntos. Foi uma época muito boa. Pena que chegou ao fim. Eu ficava tardes inteiras com ela, a afagando, a abraçando, a beijando. Ainda me lembro do calor de seu corpo, o cheiro de seus cabelos, me lembro da sua voz fina e delicada, sussurrando palavras excitantes em meus ouvidos. Lembro-me das tardes que passávamos juntos, deitados na relva dos pastos, quando ainda íamos juntos para a fazenda dos pais dela. A última vez que fizemos isso, o vento soprava em nossos cabelos e os pássaros assoviavam. O céu estava azul com poucas nuvens. Eu peguei um ramo de girassol de um tufo e entreguei a ela.

Bons tempos. Às vezes sinto saudades dela. A forma como ela pegava em minha barriga, como chupava os meus lábios. Lembro-me de seu corpo perfeito. Muitos não achavam, mas eu achava. Ela era inteira perfeita para mim. Não era cheia de qualidades, mas era ela com quem eu queria passar a vida para escrever a minha história de amor. Ela somente era tudo o que eu queria.

Pena que não nos vemos mais. Cansei-me dela. Os hábitos dela me irritavam. Brigávamos muito. Ela era ciumenta, nunca me deixava sair sem ela. Eu estava perdendo os amigos, a família. Eu não estava mais vivendo por mim mesmo, estava vivendo por ela. Ela se entregava totalmente a mim, mas eu não queria isso. Eu queria que fôssemos independentes, que cada um fizesse o que quisesse. E não era isso que estava acontecendo. Estávamos presos um ao outro. Como se tivessem passado cola Super Bonder em nós. Isso me torturava. Eu tive que deixá-la, para o bem de nós dois.

Desde lá, até que tenho passado bem. Já arranjei outras garotas. Só que, nenhuma delas eu amei tanto quanto ela. Voltei a sair quando eu quero e com quem eu quero, sem estar preso a ela fisicamente. Mas continuo preso a ela em pensamentos: Onde quer que eu vá, vejo algo que me lembra dela. Lembro das coisas boas que fizemos juntos, dos sentimentos que tivemos um pelo outro, das nossas transas inesquecíveis. Mas não suporto o sentimento de falta de liberdade de quando eu ainda estava com ela. A total dependência que tínhamos um do outro. Isso era terrível. Tenho certeza que estamos melhor agora.

Ontem passei pela primeira vez na frente da casa dela, desde que nos separamos, e a avistei. Seus olhos se arregalaram e brilharam quando ela me viu. Ela estava debruçada sobre a janela com um vaso azul entre os braços. E dentro do vaso, estava o girassol da última vez que nos vimos. É lógico que, com o tempo, ele murchou. Mas ela ainda o guardava. Eu tentei passar reto. Ignorá-la. Mas não consegui. Perguntei por que ela ainda guardava aquela flor.

“Ela praticamente morreu, mas é tão importante para mim, me lembra de tantas coisas boas, que eu não parei de tentar revivê-la nem por um momento”

sábado, 29 de maio de 2010

Dom

Dom

Nuvens podem ser feitas de algodão
Fofas, brancas e lindas elas são
Lá em cima no céu ficam a pairar
Impedindo todo o Sol de brilhar

Os dragões não precisam ser moinhos
Eles cospem fogo ao invés de vento
Eu sonho agora nesse momento
Como sonhamos quando garotinhos

Somos aqueles quem queremos ser
A nossa vida é influenciada
Por nós somente, é manipulada

Os sonhos que a gente pode ter
Podem muito nos significar
Podem de nada nos adiantar

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A História de Fred.

O nome dele é Fred. Ele tem a pele rosa e olhos pretos. Ele tem uma vida muito boa. Maior parte dos dias são ensolarados na fazenda onde ele vive. Fred sempre está com os outros, brincando, rolando na grama, que faz cócegas em seu corpo. No campo ao redor de sua casa há inúmeras flores amarelas, delicadas e perfumadas. Também passa um riacho, que sempre está dispersando seu som tranqüilizante pela fazenda. De dia, os grilos grilam, e de noite, os sapos coaxam.

Fred é uma criança muito esperta. Está sempre brincando com seus amigos, tomando sol, explorando a fazenda, mergulhando nas águas refrescantes do riacho. Ele é uma criança muito curiosa, sempre descobre buracos onde se esconder, coisas novas para comer, poças de lama onde brincar. Ele também é uma criança muito humilde, sempre está próximo dos que precisam da sua ajuda, sempre está brincando com todos, nunca arranja confusões. E acima de tudo, Fred é uma criança muito feliz.

Sua família passa algumas dificuldades. Eles não têm nenhuma posse, fora uma pequena parte do território da fazenda, e para saciar sua fome, sempre dependem dos restos de alface, tomate, cenoura e arroz que dão para eles comerem.

Um dia, homens que visitavam a fazenda pegaram Fred. Colocaram-no dentro de um caminhão cheio de outras crianças iguais a ele, e depois o levaram para longe. Dentro da carreta onde Fred estava era muito escuro. E tudo fedia a suor e ferrugem. Fred estava com medo. Não sabia para onde o estavam levando. Alguns gritavam. Mas ninguém os socorria.

Quando finalmente pararam, os homens pegaram Fred e as outras crianças e levaram para dentro de uma sala toda branca, porém encardida, dentro de um prédio. O novo lugar tinha cheiro de fezes. Ninguém sabia o que estava acontecendo e todos estavam assustados. De tempos em tempos, os homens abriam a porta de novo e pegavam uma das crianças. E a cada vez que eles apareciam, todas gritavam. Ninguém queria se separar dos outros.

Até que chegou a vez de Fred. Os homens o agarraram. Ele gritou, esperneou, mas não adiantou. Eles levaram Fred para outra sala, que era muito mais assustadora. Ela tinha as paredes e o chão cheios de um líquido vermelho. Não um vermelho fosco, mas um vermelho vivo. Sangue. Fred gritava. Gritava. E gritava. Mas ninguém o socorria. Ele começou a chorar. E quando os homens o levantaram e o colocaram sobre uma mesa, ele desistiu de tudo. Sabia que não sobreviveria mais. Um terceiro homem veio com um machado imenso. Colocou bem rente ao pescoço de Fred. Fred sentiu a lâmina gelada. Então o homem levantou o machado em posição de golpe, e olhou para as lágrimas escorrendo do rosto de Fred por alguns segundos. Então, em um único golpe, ele decapitou Fred.