quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Abismo


Eu estou aqui. Deitado na água quente da minha banheira. Ouvindo o Canon em ré menor de Pachelbel, no meu aparelho de som de ponta. Qualidade máxima. Estou tranquilo. Vendo o vapor subir da água, embaçar o espelho do meu banheiro. E admirando a decoração do mesmo. Afinal, contratei um decorador somente para fazer isso. A espuma também é muito relaxante. Eu não poderia estar em um lugar melhor. A água quente envolvendo meu corpo, me tranquilizando. Estou com um livro em mãos, mas não estou lendo agora. Também tenho uma cesta com frutas, uvas claras e escuras, maçãs, peras. Tudo ao meu dispor. Se eu quiser alguma coisa fora disso, posso chamar minha empregada para me trazer. Eu tenho tudo o que quero.

E o melhor de tudo, estou sozinho. Sem pessoas menores, como você, por perto de mim, para me invejarem e falarem de mim. Aposto que você não tem nem uma banheira em casa. Quem dera tivesse uma suíte como eu. Provavelmente seus banhos são rápidos e você mal fica debaixo da água. De baixo da água, por que com certeza é um chuveiro comum. Quando sai do banho, se embrulha em uma toalha mofada e passa frio até se trocar. Muito frio, por que estamos no inverno gelado, e você não tem a sorte de ter uma casa quente e uma banheira aquecida, como eu.

De sábado, você provavelmente sai com seus amigos favelados para um bar. Bebem até passarem mal. São pessoas sem estilo nenhum e sem propósitos na vida. Eu, aos sábados, vou com minha família a algum teatro para assistir uma peça bem comentada ou até mesmo uma ópera.

Você, aos fins de semana, vai a baladas toscas e se prostitui, beijando várias pessoas diferentes. E a propósito, feias. Meus romances são de qualidade totalmente superior. Ou eu vou à casa de minha namorada, ou ela vem à minha. Ela é linda, vai a salões de beleza, se produz. É a perfeição. Pois ela também tem dinheiro, assim como eu, e diferente de você e das pessoas que a vida de baixa sociedade o força a passar as noites com.

Minha vida é totalmente diferente da sua. Eu tenho dinheiro, tenho luxo. Não passo necessidades, tenho sempre conforto máximo. E você nunca tem nada. Passa frio, talvez fome, não tem condições de ter tudo o que deseja. Ainda bem que eu não tenho que me preocupar com pessoas do seu nível. Continuo aqui na minha banheira aquecida, apreciando minha própria vida. Não me importo com pessoas como você. Gentalha inútil. Agradeço por estar afastado de toda essa vida desclassificada, repugnante e medíocre que você leva.

Macacos das Neves, minha fonte de inspiração para o texto

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