terça-feira, 17 de maio de 2011

Vida Vinda da Tinta


Eis que Frans nasceu sem chorar. Ele foi um bebê que não sorria, nem chorava. Ele olhava o mundo a cada dia como se tivesse acabado de nascer. Ele era praticamente mudo, raramente chorava ou gargalhava. Ele demorou um ano para dizer a primeira palavra e quase dezoito meses para aprender a andar. Ele tinha medo do que era novo. Gostava de aprender, mas não se sentia bem fazendo aquilo que nunca tinha feito antes.

Ele nunca aprendeu a andar de bicicleta. Ele andava por aí a pé, sem ciência de onde ia, sem saber aonde seus pés o levavam. Ele observava o mundo como um telespectador de televisão, não ousava participar dele. Ele assistia às pessoas brincando no parque, nadando na piscina, rindo, se socializando, mas não tinha coragem de ter uma atitude e contemplar com a pele aquilo que contemplava com os olhos. Ele sempre estava vagando, sem rumo, só observando, sem participar de nada.

Ele não apreciava música. A melhor música, para ele, era o som dos carros, as vozes das pessoas, as buzinas, os sinos da igreja, os pássaros cantando, o martelar de uma construção, e principalmente o vento, que vaga pelo céu, que já passou por todas as partes do mundo, já levou muita poeira de um lugar para o outro, mas que ninguém dá a mínima importância.

Frans gostava de pinturas. Ele via a vida como vinda da tinta, e não do pó. Ele via dentro dos quadros toda a loucura e o sofrimento vivido pelos indivíduos que dizem às telas “que haja luz”. Ele via Os Corvos de Van Gogh batendo asas sobre os campos, todos vindo em sua direção, para buscá-lo. Ele via todo o movimento dos corpos ilustrados por da Vinci, como se todas as pessoas retratadas por ele escondessem de quem as observasse, algum segredo. Ele sentia toda a conformidade de Adão por não estar em contato com Deus, em todo o niilismo expresso por Michelangelo.

Ele começou seu apreço por literatura assistindo a filmes. Mas no fundo, ele não gostava: não os achava profundos o suficiente. Então lhe voltou à mente que a vida era vinda da tinta. Nisso começou seu deleite pela literatura impressa. Deliciava-se com os livros, como se eles lhe trouxessem a vida que ele não tinha. Cada letra, cada palavra, cada ponto no texto, era um suspiro, um olhar, um passo dentro do mundo próprio que ele criava em sua mente. E isso lhe era suficiente, uma troca de situações. No mundo real ele se preenchia com as histórias dos livros, e em suas emoções ele vagava por aqui e por ali sem sentido.

Ele nunca chegou a ter um amor. Ele não falava com as pessoas que lhe chamavam atenção. Ele tinha medo de que, ao ficar frente a frente com alguém que ele gostasse, as palavras enroscassem em sua garganta e nada saísse de sua boca. Ou então, se ele conseguisse falar com a pessoa e essa pessoa gostasse dele, ele temia por parar de gostar dela. Tudo que ele não tinha certeza em sua vida, ele descartava. E, como na vida nada é certo, ele não fazia nada, além de ficar vagando pela terra, observando as pessoas, seu comportamento e as coisas que elas inventam.

Eis que, em um gélido inverno, Frans pegou uma gripe, que evoluiu para uma pneumonia, e ele acabou sendo internado em um hospital. Na vida, nada é certo além da morte. Como ele não tinha família, foi enterrado como indigente.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

1 Ano

Pois é, já faz algum tempo que eu não escrevo nada... Tenho passado por momentos de pouca inspiração. Acho que não consigo mais escrever textos extremamente depressivos. Na minha vida mesmo tenho passado por essa mudança: Estou entrando em um momento menos "que vida sofrida" e mais "foda-se".

Dia 5, o Antiquado fez um ano de inauguração. Não tive tempo para postar nada no dia, mas hoje quero fazer alguns comentários sobre os textos que mais marcaram nesse último ano, dos mais antigos para os mais recentes:

A História de Fred.
Foi o meu primeiro post. No início do blog, eu não queria postar os meus textos mais depressivos, por isso escrevi esse. O meu objetivo ao escrever "A História de Fred." Era fazer jus ao título do blog, Antiquado, fazendo uso de um roteiro que expressa sentimentos de desagrado, assim como a imagem. Eu sempre quis escrever textos que incomodam as pessoas que leem. O título possui o ponto final para demonstrar que é a história de um fim.

Nem por um Momento
Sem dúvidas, um dos textos mais lindos que eu já escrevi. Uma amiga minha perguntou para mim se era verdade, e ficou espantada quando eu neguei, pois ela disse que quase chorou ao lê-lo. Eu não esperava causar esse tipo de sentimento nos leitores quando o fiz, eu só queria escrever algo relacionado a uma imagem de um girassol, que afinal de contas não cheguei a usar para ilustrar esse texto:

Você Deu Errado
Esse é o meu texto de maior sucesso, é o mais lido de todos eles. Escrevi ele enquanto ouvia "Bad Romance", embora eu não goste muito de Lady Gaga. Ele é um dos meus três textos mais expressivos, ao lado de Simbolismo Negro e Você é o Culpado.

O Príncipe na Armadura Reluzente
Outro texto que eu gosto muito. Comentei sobre ele em um texto que escrevi mais tarde, Uma Palavra. Para criar seu enredo, levei em consideração várias coisas. São elas: Uma situação de rejeição que eu passei; As reclamações que uma amiga fez do namorado; E o fato de eu discordar do sentimento de alegria incondicional da música "Cannon" de Pachelbel.

Luzes
Esse texto é mais antigo que o blog. Retrata mais ou menos a cena de um filme que eu não assisti, que eu só vi quando estava passando pelo corredor e olhei para a TV por alguns segundos, mas que acabou ficando muito legal.

Amoras Secas
Escrevi "Amoras Secas" com base em uma discussão que tive com um amigo, que dizia que ia achar uma esposa loira e linda que pintaria as unhas de vermelho, mas que se casaria com ela virgem. Aí eu narrei essa história dizendo que aconteceria com ele, e mais tarde eu reescrevi inspirado no filme "17 Outra Vez" e postei no blog.

O Lugar Onde a Felicidade Existe
Outro texto que eu tive inúmeras inspirações: A Música "Fireflies" de Owl City, Uma dríade que aparece em algum filme das Crônicas de Nárnia, a região do Ancient Temple do Zelda Twilight Princess, e uma cena que eu vi na TV, da novela "A Favorita", que tinha um menininho que via o pai batendo na mãe.

As Duas Faces do Amor Incondicional
A primeira imagem do meu blog. Eu tive trabalho para criar as três contas do msn e conseguir as fotos, eu não queria mostrar rostos, mas também queria que parecessem de pessoas reais. Foi inspirado mais ou menos uma premonição minha de algo que quase aconteceu.

Se Eu Não Preciso Pagar para Ter o Mundo
Como foi dito no post, foi inspirado em três coisas, em uma viagem que eu fiz ao Rio de Janeiro, em um texto de uma amiga minha, e em uma conversa com um amigo. É o segundo texto que eu posto que não passa nenhum sentimento realmente ruim: Dom foi o primeiro.

Sem Título
Escrevi-o em um momento de crise. Eu estava me sentindo realmente mal e queria expressar isso. Não foi inspirado em nenhuma música, em nenhum filme, em nada fora os meus sentimentos em um dos piores momentos da minha vida. Eu mesmo não gosto de lê-lo, me traz péssimas lembranças. A única vez que eu o li completamente foi quando o escrevi.

Luta pela Vida
Uma imagem que foi feita totalmente por mim, desde aedição da foto, até a destruição do muro e a pichação (Brincadeira). Não vou dizer que ela tem um sentido, que eu quis passar um sentimento. Como qualquer outra fotografia, serve para quem a vê pensar nos infinitos significados que ela pode ter.

Lembrança
Inspirado nos textos do blog de um amigo. Esse texto serve como continuação de outro, Autopsicometeorologia. Eu não diria bem uma continuação, uma vez que só se retrata de uma descrição dos pensamentos do personagem depois dos fatos ocorridos no texto anterior. Eles não são dependentes, você pode ler qualquer um quando quiser, sem ter lido o outro, e isso não vai fazer absolutamente diferença nenhuma no seu entendimento.

Essa foi a minha descrição básica dos textos principais que eu escrevi e postei no Antiquado desde o dia 5 de Maio de 2010. Espero que vocês gostem e continuem lendo meus textos.

Caso queira procurar textos que eu não comentei aqui, sobre algum tema específico, basta selecioná-lo na nuvem de tags, do lado direito da página do blog, sob o histórico. Eu separei os textos por tema minuciosamente para facilitar quando qualquer leitor estiver com vontade de ler algo em específico.



Atenciosamente,