segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Dois Momentos


Passo na frente de passo. Passo na frente de passo, eu continuo andando, passo na frente de passo. Passo pela grama alta, bem alta, já deve estar com meio metro de altura. O muro está começando a derrubar pedaços do seu concreto no chão, formando uma areia cinza e bem grossa. Do outro lado, as amoreiras amarronzadas, já sem metade das folhas. Parece que tudo está destruído.

Destruído sim, mas não morto. Sofrimento? Eu não conheço isso. Minha vida é tranquila, tranquila até demais. Parece que tudo está parado, inerte... Nunca conquisto nada, só envelheço perdendo os momentos da juventude que poderia ter aproveitado. Estou cansado. Passo na frente de passo, nunca conquisto nada, só consigo me cansar. É isso. Estou cansado dessa vida medíocre. Quando vou deixar tudo para trás?


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Então eu abro mais o registro, deixando a água fria. Sento no chão do banheiro, abraço minhas pernas. Fico escutando somente o som da água caindo. A água que, mais longe da resistência do chuveiro, fica mais fria ainda. Cai na minha cabeça, escorre pelas minhas costas. Deixa-me arrepiado, como se estivesse correndo por dentro de mim, limpando minha alma. Eu sei que a maioria dos outros garotos estaria fazendo outras coisas no banho. Mas eu sempre soube que eu não sou uma pessoa normal.

Às vezes, preciso sair da rotina para esfriar minhas ideias. Geralmente essas fugas envolvem água gelada, pancadas ou coisas quebrando; no entanto em todas elas eu tenho que estar sozinho. Preciso fazer algo para aliviar minha ira, minhas frustrações. Às vezes a vida parece pesada demais, cheia de obrigações necessárias para alcançar objetivos que não são meus, e eu preciso virar tudo de cabeça para baixo e do avesso para sentir que estou fazendo algo além de existir. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Me...


O mar é azul, mas não é da cor do mar. É mais escuro, e tem mais visibilidade. E eu posso ver suas estrelas no fundo, brilhando para mim como despedida.

A popa é um lugar deprimente. É aonde vamos para lembrar do que deixamos para trás. Talvez seja por isso que, nas caravelas, a cabine do capitão se localiza nela. No meu caso, olhar para o passado me faz querer aumentar a velocidade, navegar mais rápido. Fugir da terra que me prendia.

O problema é que você pode até não o ver, mas o lugar de onde você fugiu continua lá, existindo. Os habitantes ainda se lembram de você. E a qualquer momento, você pode voltar, só por curiosidade, e acabar se arrependendo.

As caravelas portuguesas possuíam cruzes vermelhas. As minhas não: São totalmente brancas. Mas isso não significa que eu não possua um guia invisível. Minha viagem é guiada pelo sentimento de deixar a angústia e viver em branco, mesmo que seja só por alguns momentos. Afastar-me um pouco do mundo.

Me…

Há algo que eu odeio na terra. A forma como as coisas se repetem. Você tem uma montanha aqui, e logo na frente tem outra montanha, e depois outra. Uma praia aqui, depois uns rochedos. Além deles, outra praia e outros rochedos. Tudo é muito repetitivo e deprimente.

Certo, no mar a gente só tem ondas e estrelas, que também são repetitivas, bem mais do que qualquer coisa na terra. Mas eu me sinto livre quando estou navegando. É uma repetição que não me faz doer.

Na terra, tudo é doloroso. E ir para o mar só vai tornar a terra mais dolorosa ainda quando eu voltar. Mas eu não consigo resistir, estou preso a essa sensação de liberdade. Eu tenho que fugir da terra. Tenho que ir para o mar. É onde tudo faz sentido mesmo sem fazer sentido algum.

me acorda ?