quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Me...


O mar é azul, mas não é da cor do mar. É mais escuro, e tem mais visibilidade. E eu posso ver suas estrelas no fundo, brilhando para mim como despedida.

A popa é um lugar deprimente. É aonde vamos para lembrar do que deixamos para trás. Talvez seja por isso que, nas caravelas, a cabine do capitão se localiza nela. No meu caso, olhar para o passado me faz querer aumentar a velocidade, navegar mais rápido. Fugir da terra que me prendia.

O problema é que você pode até não o ver, mas o lugar de onde você fugiu continua lá, existindo. Os habitantes ainda se lembram de você. E a qualquer momento, você pode voltar, só por curiosidade, e acabar se arrependendo.

As caravelas portuguesas possuíam cruzes vermelhas. As minhas não: São totalmente brancas. Mas isso não significa que eu não possua um guia invisível. Minha viagem é guiada pelo sentimento de deixar a angústia e viver em branco, mesmo que seja só por alguns momentos. Afastar-me um pouco do mundo.

Me…

Há algo que eu odeio na terra. A forma como as coisas se repetem. Você tem uma montanha aqui, e logo na frente tem outra montanha, e depois outra. Uma praia aqui, depois uns rochedos. Além deles, outra praia e outros rochedos. Tudo é muito repetitivo e deprimente.

Certo, no mar a gente só tem ondas e estrelas, que também são repetitivas, bem mais do que qualquer coisa na terra. Mas eu me sinto livre quando estou navegando. É uma repetição que não me faz doer.

Na terra, tudo é doloroso. E ir para o mar só vai tornar a terra mais dolorosa ainda quando eu voltar. Mas eu não consigo resistir, estou preso a essa sensação de liberdade. Eu tenho que fugir da terra. Tenho que ir para o mar. É onde tudo faz sentido mesmo sem fazer sentido algum.

me acorda ?

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