sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O Mapa do Futuro

 Eu: Sim, eu venho do futuro. De cerca de dois mil e quinhentos anos a partir do dia de hoje.
Aristóteles: Entendo. Mas, supondo que você esteja falando a verdade, me explique como isso funciona. Afinal, se você nasceu milênios depois de mim, ouviu falar da minha morte, e sabe dela agora, mesmo antes dela ocorrer. E agora está falando comigo. Como pode, o seu nascimento, daqui a dois mil e quinhentos anos, ser uma causa para algo que aconteceu antes, que é esta conversa?
Eu: Imagine que o tempo existe, e é uma distância a ser percorrida, da mesma forma que você pode sair daqui de Atenas e ir até Corinto. No entanto, o tempo geralmente só pode ser percorrido em uma direção, ao futuro. E, no futuro, nós encontramos uma forma de fazer esse caminho de volta, da mesma forma que você poderia voltar de Corinto para cá. Eu sei que não faz sentido com a visão que você tem do tempo, mas é a verdade.
Aristóteles: Entendo. Então, vocês, homens do futuro, conhecem bem o suficiente o universo para conseguir inverter a direção do tempo. Impressionante. O que mais vocês conhecem?
Eu: Bem, olhe para esse mapa que você tem na parede. Ele vai até a Pérsia, ao Leste. Até a nascente do Rio Nilo, a Sul. A Oeste, só algumas ilhas, e depois um mar que não tem fim. No meu tempo, nós temos um mapa do mundo inteiro. E sim, você estava certo, o planeta é uma esfera, ou quase isso, e de um tamanho muito próximo do que vocês, sábios desta época, já imaginavam. Nosso mapa mostra que o mar dá a volta na África, ligando o mar Ocidental ao Mar Vermelho. E existem terras muito distantes que vocês nunca ouviram falar, mas que já possuem homens mesmo nos dias de hoje. E nós conseguimos enviar cartas ao redor do mundo inteiro em segundos.
Aristóteles: Muito interessante! Mas vocês esgotaram o conhecimento sobre a geografia do mundo, então?
Eu: De certa forma, sim. Como eu disse, o nosso mundo é redondo. Mas existem vários outros mundos redondos. As estrelas errantes que às vezes observamos no céu, são outros mundos, mais ou menos como os nossos. E esses mundos se movem independentemente do resto do céu porque cada um gira, da sua própria maneira, ao redor do Sol, assim como o nosso mundo faz.
Aristóteles: Isso faz sentido. Mas e a Lua? Ela não é uma estrela errante. Ela também é um Sol? E as outras estrelas, que ficam todas paradas em relação uma às outras, vocês desvendaram o que elas são?
Eu: Na verdade, a Lua é uma exceção. Ela também é um outro mundo, menor que o nosso, mas gira ao redor do nosso mundo. É o único faz isso. E as outras estrelas são na verdade outros sóis, como o nosso, cada uma com seus próprios planetas, mas que estão tão distantes que nós vemos elas como pontos. Nós até mesmo descobrimos alguns desses mundos que giram ao redor desses outros sóis.
Aristóteles: Bravo! Mas como podem enxergar os mundos dos outros sóis? Ninguém nunca viu nenhum mundo ao redor das estrelas. Quero dizer, nos dias de hoje.
Eu: Sim, isso faz sentido. Nós, do futuro, inventamos instrumentos que nos permitem enxergar muito mais longe do que a visão humana. Tão longe, que alguns desses instrumentos precisam ser colocados fora do nosso mundo, no meio do caminho entre nós e a Lua. Alguns ficam ainda mais distantes do que a Lua.
Aristóteles: Maravilhoso! E vocês também esgotaram o conhecimento de quantas estrelas, ou sóis, existem no céu?
Eu: Não, de forma alguma. Como eu disse, conseguimos enxergar muito longe com esses equipamentos. E quanto mais longe olhamos, mais estrelas encontramos. As próprias estrelas que vemos no céu, hoje, são uma quantidade muito pequena se comparadas a todas que existem na Via Láctea, quanto mais em outras galáxias.
Aristóteles: Outras galáxias? Você quer dizer, outras como a Via Láctea?
Eu: Exatamente. Todas as estrelas que vemos no céu estão muito próximas da terra. Com nossos instrumentos, conseguimos ver muitas outras que estão muito mais longe, na Via Láctea. Todas essas estrelas giram ao redor do centro da Via Láctea, de forma parecida que nosso mundo e as outras estrelas errantes giram ao redor do Sol. E com nossos instrumentos conseguimos ver outras Vias Lácteas, que estão a uma distância ainda muito maior.
Aristóteles: Impressionante! E vocês também tem um mapa completo da Via Láctea? E o que tem no centro dela, um Sol gigante?
Eu: Várias perguntas! Primeiro, no centro da Via Láctea temos algo parecido, sim, com um Sol gigante. Mas ele não brilha, pelo contrário, ele absorve luz. E todas as outras Vias Lácteas têm um desses também. E não, não temos um mapa completo da Via Láctea, porque não conseguimos enxergar do outro lado dela.
Aristóteles: E as outras Vias Lácteas? Também giram ao redor de um Sol ainda mais gigante do que esse Sol que absorve luz? Qual é o limite do mapa de vocês, homens do futuro?
Eu: Bem, acho que aí chega o limite do nosso mapa. Primeiro porque, no futuro, descobrimos a velocidade da luz. Ela não é instantânea. E além disso, também descobrimos que o tempo, em si, teve um início, ele não existiu sempre, pelo menos não da forma como nós o entendemos. Então, se toda a luz teve uma origem no tempo, e ela só percorreu uma certa distância desde o momento em que ela foi criada, então existe um limite para a distância que conseguimos enxergar. É a distância que a luz conseguiu percorrer, desde que o tempo surgiu. E temos alguns indícios que o universo ainda é muito maior do que essa distância. E não, pelo menos até onde sabemos, as Vias Lácteas não giram ao redor de um Sol ainda mais gigante. Pelo menos não com a quantidade de coisas que conseguimos enxergar. Mas alguns dos sábios da minha época acreditam que, se existe um centro para todas as Vias Lácteas, esse centro é o momento zero, o momento em que o tmepo surgiu. Lembra que eu disse que o tempo também é uma distância? Sim, é algo difícil de entender. Mas é algo que nós imaginamos fazendo contas com a nossa matemática do futuro e experimentando essa matemática no universo, de uma forma um pouco parecida com a que você criou. A propósito, o futuro te deve muito.
Aristóteles: Fico lisonjeado! Essa história que você está me contando é muito boa. Deveria contá-la a algum poeta ou sacerdote. Aliás, como conseguiram medir a velocidade da luz? E você falou também da matemática do futuro? Como ela funciona? E quantos outros conhecimentos vocês têm, na sua época, que são tão mais avançados assim que os dos dias atuais? Vocês conseguiram descobrir se a matéria é feita de átomos ou se ela é contínua? E quantos elementos ela tem? São mesmo quatro? Existe uma força maior que governa o universo? E a alma, o que você tem a me dizer sobre ela? E o mundo das ideias, ele existe? Chegaram a alguma conclusão sobre qual é o limite do conhecimento humano? Se tudo que você me disse é verdade, então vocês, homens do futuro, devem ter ferramentas de pensamento tão avançadas! Pena que Platão já está morto, ele também adoraria esta conversa!
Eu: Calma! Uma pergunta de cada vez. Podemos conversar mais depois que eu comer um pão e tomar um gole de vinho, já estou ficando sem voz.