Caminhando por esta rua de fogo, e meu lar está reduzido a
cinzas.
Eu estava entediado. Nada a fazer. A casa limpa, a mesa posta...
Nenhuma tarefa restante. Cada coisa em seu lugar.
O que eu fazia? Não me lembro. Não quero me lembrar. Estou
com uma nuvem, densa cerração, ao redor de minha cabeça. Só quero sanar esse
tédio, ocupar minha mente.
Eu estava entediado. Nada a fazer. Resolvi sarar meu aborrecimento
com o abençoado remédio thorazinternet.
Entrei no Facebook, Whatsapp, Messenger, naquele blog
habitual, naquele fórum habitual. Pesquisei no google algo que andava
perturbando minha mente. Perturbando minha mente.
Mensagem aqui, mensagem lá. Atualizações. Imagens nada originais.
Aquela mesma imagem, vista pela milésima vez. Notícias. O time venceu, o homem
suicidou, o bandido foi preso.
Enviaram-me um link. Um link estranho, que levava a um blog
estranho. Cores estranhas, formatos estranhos. Textos estranhos.
A primeira frase, de um daqueles textos. Caminhando por esta
rua de fogo, e a casa está reduzida a cinzas.
E então, eu me lembrei. Lembrei-me do que fazia, de como era a minha vida. A nuvem foi embora, e nada faz sentido. Nada está em seu lugar.
Tudo está ao contrário. De ponta cabeça. De frente para
trás, do avesso. Bagunçado, desordenado, confuso. Uma baderna, uma folia, uma
arruaça.
O que é tudo isso? O que essas coisas fazem... Em minha
vida? Não, não. Nada está certo. Tudo está muito estranho... E ao mesmo tempo
familiar, íntimo... Costumeiro.
Sim, sim. Tem algo de errado. Mas não são coisas. Não está
na minha vida. O que está errado é a minha vida. A minha vida, em si.
É. A minha vida é estranha. Ou deveria dizer... Existência?
Porque tudo isso, todas essas coisas, você sabe... Não podem ser chamadas de
vida.
A minha existência é estranha. Muito estranha. Eu não
deveria estar aqui. O que eu fazia antes da nuvem aparecer e eu ficar
entediado... Você sabe.