terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A História do Renan


Nós estudamos por anos no mesmo colégio, mas eu só o conheci quando estávamos no final do terceiro ano do Ensino Médio. Ele era um rapaz legal, e logo após algumas conversas já havíamos nos tornado grandes amigos, tomando conhecimento um dos segredos mais íntimos do outro. Começamos a sair juntos e conhecemos, em nossas noitadas, vários dos melhores bares e baladas de São Paulo, além de termos ido a várias festas nas casas de nossos amigos. Eu sempre me dei muito bem com o Renan, nós até nos beijamos uma vez, estávamos bêbados. Aí você me pergunta: "Ué, mas você não o beijaria mesmo estando sóbrio?" E a resposta é: Não! Por dois motivos. O primeiro é que eu evito o máximo possível de me relacionar assim com qualquer amigo. Beijar alguém com quem você tem intimidade, mas com quem não cogita ter um relacionamento sério é um grande problema. E o segundo motivo é que eu não gosto de beijar rapazes heterossexuais, e o Renan é heterossexual. Inclusive posso dizer que a sua gula por bucetas era a única coisa nele que me deixava irritado. E foi por causa de uma buceta que a nossa amizade terminou, ao menos da forma como ela era antes.
Nós havíamos ido à casa de Huguinho, Zezinho e o terceiro nome eu me esqueci. E sim, esses são os nomes dos sobrinhos do Pato Donald. Tratava-se de amigos meus, trigêmeos, apelidados dessa forma. Eles estavam dando uma festa em casa e convidaram dezenas de pessoas, e eu tomei a liberdade de chamar Renan. A festa estava transcorrendo bem, pelo menos a parte que eu me lembro, até chegar Raffaela. A Raffa é uma moça legal, nós conversamos até hoje. O único problema dela não era bem ela, mas o namorado dela, um cara estranho, cujo nome também não me lembro de agora, que é, ou pelo menos era, traficante. E ele era conhecido por ser matador. E como a Raffa sempre foi uma menina bem apanhada, previ que o Renan iria arranjar problemas, e o avisei o mais cedo possível para não se meter com ela. Foi em vão. Se eu disse que o único problema da Raffaela era o namorado, menti. Ela é amaldiçoada por um desejo de adultério sem igual. E pelo que Renan me disse na própria festa, ela tinha terminado o namoro com o traficante, e ninguém ficaria irritado se eles ficassem um com o outro. Devo dizer que Renan caiu na tentação. E que ele saiu da festa de ambulância, baleado na cabeça por um amigo do traficante. Infelizmente, ele não morreu, mas o seu cérebro ficou terrivelmente comprometido.
Nós ainda somos amigos, às vezes saímos para conversar, comer um lanche, mas nunca mais tive uma conversa legal com ele. E obviamente, nunca mais fomos a festas... E Renan provavelmente têm se aliviado agora somente com a própria mão ou com garotas profissionais. Esse é o preço que ele pagou pelo deslize que ele cometeu. Foi a forma que o traficante encontrou para fazer justiça.