quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pesadelo


Tive um sonho muito estranho há aproximadamente um mês. Escrevi-o e agora estou postando:

Acordo. Sinto meus braços e minhas pernas pesadas. Estou acorrentado sobre uma cama. O coxão está aos pedaços. Suas molas estão saindo e perfurando minha pele. Vejo meu sangue escorrendo. Um cobertor destruído está caído no chão. E a madeira da cama está aos pedaços. As correntes pesam tanto... Estão presas às paredes por cadeados. Preciso da ajuda de alguém. Mas estou sozinho.

Ouço gritos. Gritos de dor. Gritos de tristeza. Murmúrios. Choros. Eles estão chegando cada vez mais perto. Entrando no quarto. E eu ainda me sinto sozinho. No fundo, os gritos, murmúrios e choros são meus. É o meu próprio sofrimento. Os cadeados se abrem. As correntes se desprendem das paredes. Consigo me levantar, mas ainda tenho que arrastar as correntes. Elas ainda estão presas em mim e não consigo me livrar delas. E os gritos e choros ainda me perseguem.

Dou passos pesados pela casa. As correntes não são leves, e tenho que arrastá-las. Chego até um aposento e me deparo com um boneco. Ele tem o tamanho de um homem. Possui olhos grandes e redondos, mas de tamanhos diferentes um do outro, ambos com cílios bem compridos. O olho maior tem uma cicatriz e é branco. O boneco é cego. Parece que ele sorri. Mas sua boca está costurada. Talvez para ele não falar e não retorcer os lábios, para não parecer triste. Ele imita os meus movimentos. Ele é uma marionete, preso ao teto por correntes, e o seu controlador faz com que ele faça tudo o que eu faço. Chego perto dele. Tento tocar nele, mas percebo que há uma parede entre nós. Uma parede não, um vidro. Não, não é um vidro. É um espelho.

Me assusto. Viro meu rosto. Não quero olhar para ele. Quando levanto minha cabeça, para ver se ele é real mesmo, não enxergo mais nada. Só uma fumaça negra. Estou perdido. Sozinho. Só consigo enxergar poucos palmos à frente. Ando, ando e ando, e não chego a lugar nenhum. Nenhum objeto, nenhuma parede. Só um chão seco, rochoso. Minhas pernas se cansam. Acabo caindo com as mãos no chão. Não quero ficar lá, quero procurar alguma coisa. Não quero esse nada. Mas minhas pernas não aguentam andar.

A fumaça negra vai se condensando. Se solidificando. Por fim, elas acabam formando paredes negras. Estou em uma encruzilhada. Posso escolher qualquer um dos seis caminhos. Sigo em frente. Mas estou num labirinto. Várias bifurcações, muitas escolhas. Não sei o que fazer. Estou desesperado. Eu só corro por entre as paredes negras do labirinto, procurando uma saída. Mas nada. Estou eternamente perdido.

Consigo chegar a uma saída. Vejo o céu roxo, repleto de nuvens, e um caminho de chão rochoso. Quando chego mais perto, vejo um precipício. E tudo está envolto nas nuvens roxas. Se olho para cima, para frente, para baixo. Não importa. Só vejo as nuvens roxas e o fino caminho rochoso. Tenho medo de cair. Lá em baixo não há nada. Se eu cair, o que vai acontecer comigo? Estou sozinho. Estou com frio. Andando num caminho estreito. Precipício dos dois lados. Alto risco de queda.

Chego a uma construção. É um caminho. Como se fosse um túnel. Dentro dele tudo é branco, luminoso. Não é um buraco dentro da terra, mas sim um buraco no meio do ar. Subindo. Seus degraus são dourados e de dentro desse túnel eu ouço o som de vozes. Pessoas conversando, dando gargalhadas. Me sinto confortável. Começo a correr na direção desse túnel. Eu quero estar lá. Mas quanto mais ando, mais longe o túnel vai ficando. Quando mais eu corro, quanto eu mais me esforço, mais longe fico da saída desse mundo agonizante.
Ouço o som de algo voando. Vejo uma flecha, vindo de dentro do túnel de luz, em minha direção. Ela me acerta no rosto. Nos olhos. Não consigo mais enxergar nada. Só sinto o sangue jorrando de minha face. Acabo tropeçando e caindo no chão. Não consigo mais andar. Não consigo mais ver. Não consigo mais fazer nada, estou imobilizado. E só ouço as gargalhadas, que vinham de dentro do túnel de luz, se afastando. E afastando. E afastando, cada vez mais.

Tento tatear um caminho. Não quero ficar para trás. Não quero ser ignorado. Eu quero entrar no túnel de luz... Por que me rejeitaram? Por que me machucaram? Tateio o chão com as mãos. Não quero cair no precipício infinito. Cheguei à borda. Sinto a beirada da rocha. Ela está se desfazendo. Tento recuar, mas tudo está desmoronando. Não consigo me manter firme. Acabo caindo. Caindo.

Não vejo nada. Não ouço nada. Não sinto nada. Não sou nada. Tudo acabou. O silêncio, a escuridão e o frio me deixam louco. A única coisa que eu sei é que estou caindo, em um buraco sem fundo. Cada vez mais rápido, com meus ombros pesados. Sinto o peso de meus pecados me puxando para baixo. Desisto. Desisto de viver. Desisto de ser feliz. Desisto. Deus.

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