Eu ligo o fonógrafo, coloco meu disco de jazz favorito,
pego minha xícara de chá e vou ler a gazeta na minha poltrona. Aperto os olhos
para tentar distinguir as letras, e percebo que estou sem óculos. Falando
nisso, preciso retornar ao oftalmologista, porque os que eu uso agora já não
são mais o suficiente para a minha visão. Quando volto e finalmente começo a
ler o jornal, dou uma bebericada no chá. Sinto meu bigode molhando. Quando já
estou no terceiro parágrafo da matéria, reparo que eu não me lembro de nada do
que tinha lido.
É horrível quando a gente percebe que já está velho
demais para começar a fazer algumas coisas. É como se minhas forças vitais
começassem a se decompor dentro de mim. “Eu estou apodrecendo”, penso. “Perdi
tempo”. E tudo o que eu sempre faço é perder meu tempo e minha vida.
“Com a velhice vem a experiência” uma vez me disse um
senhor que eu conheci na praça, jogando dominó. Já não me recordo mais de seu
nome. Eu me sinto mal toda vez que me lembro dele. Nós ficávamos batendo papo
sobre remédios, sobre a enfermeira que o atendeu no hospital e sobre seus entes
queridos falecidos. Afinal de contas, o que é a experiência?
experiência |eis|
(latim experientia, -ae, ensaio, prova, tentativa)
(latim experientia, -ae, ensaio, prova, tentativa)
s. f.
1. Ato de experimentar.
2. Ensaio.
3. Tentativa.
4. Conhecimento adquirido por prática,
estudos, observação, etc.; experimentação.
homem de experiência: homem conhecedor das coisas da vida.
Acho que descobri o motivo de eu me sentir tão velho,
mesmo tendo só dezoito anos. Posso não ter envelhecido quase nada, mas o pouco
de idade que eu tenho ganhado está vindo totalmente isolada de qualquer forma
de experiência. Não faço coisas novas, não conheço gente nova, não aprendo nada
novo. A única coisa que tem acompanhado meu envelhecimento (deveria dizer
formação, porque sequer sou um adulto ainda) é uma crescente culpa.
Provavelmente serei um velho amargurado por não ter vivido a juventude enquanto
tinha vitalidade.
Eu gostaria de sentir o sangue correndo em minhas veias.
Mas tenho a impressão que em seu lugar só existe lama. Lama não: Lodo. Um lodo
pútrido e fedorento, que me consome a cada dia. É... Eu estou sendo trágico
demais. Mas não me culpem, só estou tentando por um pouco de emoção na minha
existência. De uma forma bem velha: Escrevendo.
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