quinta-feira, 17 de maio de 2012

Crise da Meia-Idade


Eu ligo o fonógrafo, coloco meu disco de jazz favorito, pego minha xícara de chá e vou ler a gazeta na minha poltrona. Aperto os olhos para tentar distinguir as letras, e percebo que estou sem óculos. Falando nisso, preciso retornar ao oftalmologista, porque os que eu uso agora já não são mais o suficiente para a minha visão. Quando volto e finalmente começo a ler o jornal, dou uma bebericada no chá. Sinto meu bigode molhando. Quando já estou no terceiro parágrafo da matéria, reparo que eu não me lembro de nada do que tinha lido.

É horrível quando a gente percebe que já está velho demais para começar a fazer algumas coisas. É como se minhas forças vitais começassem a se decompor dentro de mim. “Eu estou apodrecendo”, penso. “Perdi tempo”. E tudo o que eu sempre faço é perder meu tempo e minha vida.

“Com a velhice vem a experiência” uma vez me disse um senhor que eu conheci na praça, jogando dominó. Já não me recordo mais de seu nome. Eu me sinto mal toda vez que me lembro dele. Nós ficávamos batendo papo sobre remédios, sobre a enfermeira que o atendeu no hospital e sobre seus entes queridos falecidos. Afinal de contas, o que é a experiência?

experiência |eis|
(latim experientia, -ae, ensaio, prova, tentativa)

s. f.
1. Ato de experimentar.
2. Ensaio.
3. Tentativa.
4. Conhecimento adquirido por prática, estudos, observação, etc.; experimentação.
homem de experiência: homem conhecedor das coisas da vida.

Acho que descobri o motivo de eu me sentir tão velho, mesmo tendo só dezoito anos. Posso não ter envelhecido quase nada, mas o pouco de idade que eu tenho ganhado está vindo totalmente isolada de qualquer forma de experiência. Não faço coisas novas, não conheço gente nova, não aprendo nada novo. A única coisa que tem acompanhado meu envelhecimento (deveria dizer formação, porque sequer sou um adulto ainda) é uma crescente culpa. Provavelmente serei um velho amargurado por não ter vivido a juventude enquanto tinha vitalidade.

Eu gostaria de sentir o sangue correndo em minhas veias. Mas tenho a impressão que em seu lugar só existe lama. Lama não: Lodo. Um lodo pútrido e fedorento, que me consome a cada dia. É... Eu estou sendo trágico demais. Mas não me culpem, só estou tentando por um pouco de emoção na minha existência. De uma forma bem velha: Escrevendo.

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