domingo, 2 de janeiro de 2011

Quem Controla a Sua Vida?

-Eu sou a pessoa mais influente do nosso grupo. Eu não gasto um décimo do dinheiro que eu uso para produzir meus perfumes. E as pessoas só de verem minha propaganda na TV gastam fortunas para comprar um líquido que muda o cheiro delas. Eu duvido que qualquer um de vocês consiga inventar algo mais inútil que isso, e ainda influenciar o mundo inteiro a usá-lo e se sacrificar para tê-lo.

-Você está errado. Nem todo mundo usa perfume. Eu sim que sou influente. Eu também não gasto um décimo do dinheiro que cobro pelos tênis que produzo. E todas as pessoas gastam uma fortuna para poder carregar o símbolo da minha companhia. Eu sou o único que consigo influenciar essas pessoas escrotas a fazer uma coisa inútil dessas.

-Meu caro, só tenho a te dizer que você que está errado. Tudo bem, tênis são vendidos por um valor bem maior do que eles realmente custam. Mas as pessoas não têm tantos tênis quanto elas têm roupas. É disso que eu me beneficio, bem mais do que vocês. Várias pessoas compram uma infinidade de roupas caras, achando que elas estão ganhando algo com isso. Achando que elas estão tendo um “estilo de vida”. Escrotas.

-Vocês se acham influentes só por que vendem coisas para o mundo, né? Quão ingênuos vocês são. Eu influencio muito mais a vida de algumas pessoas do que vocês três conseguem influenciar juntos. Afinal, com minha rede de casas noturnas, todos acham que é divertido sair à noite, dançar, beber e beijar na boca. De onde tiraram isso? Ah, sim. Fui eu que impus a elas. Eu que realmente defino o que as pessoas consideram “divertido”. Eu que defini o que elas acham “divertido”, e não vocês.

-Você acha que define alguma coisa? Caiam aos meus pés, reles mortais. Vocês acham mesmo que podem ter tão influência quanto eu, dono de uma emissora de TV? As pessoas só acham que se divertem em suas casas noturnas por que eu disse isso para elas. Se elas não vissem minhas novelas, programas de TV, propagandas, elas jamais achariam que beijar, dançar e beber é algo divertido. Família perfeita, felicidade, amor, tudo são conceitos que o mundo só conhece graças a mim. Se não fosse eu e minha emissora, vocês não seriam nada.

-Você se acha muito bom por que influencia os outros né? Mas você não pode nem dizer que tudo isso foi ideia sua. O escritor e diretor aqui sou eu. Eu que inventei tudo o que a sociedade segue. Se não fossem meus filmes, ninguém nem saberia o que é beijar. Ninguém acharia que amor é o mais importante de tudo. Pessoa alguma acharia divertido sair com os amigos. Fui eu quem escreveu primeiro tudo os que as pessoas seguem: família perfeita, felicidade, amor, liberdade... Eu que fui o grande inventor da sociedade, da qual vocês dependem.

-Vocês me fazem rir. Se preocupando tanto com a vida das pessoas. Mal sabem vocês que a vida é algo passageiro. Eu, como dono de uma funerária, posso dizer isso. Vocês podem até ter influenciado as pessoas em vida. Elas podem fazer tudo o que vocês estipularam para elas. Realmente, vivemos num mundo onde todos são muito escrotos. Mas um dia, cada pessoa da terra vai morrer. E aí, já era tudo o que elas fizeram. Não importa se elas se divertiram. Se elas se beijaram na boca. Se elas amaram. Se consideraram-se felizes. Grande merda tudo isso! Todos vão para dentro de um caixão e depois serão esquecidos para sempre. Seus corpos se decomporão e servirão de alimento para vermes, que depois também vão morrer. E todos os seus pensamentos, suas memórias, já eram. Vai acabar tudo. Cada pessoa miserável vai ser enterrada nas trevas, na escuridão, no nada. Não vão mais pensar, nem ver, nem se lembrar das coisas que as faziam viver. Essas pessoas escrotas me fazem rir. Acham que são originais, acham que tem um “estilo de vida”. Mas no final, vão acabar em minhas mãos. E quando isso acontecer, tudo vai ter acabado. Todo o divertimento, todo o amor, toda a família, já era. Eu venci. A morte sempre vence, e a vida acaba nunca fazendo sentido.

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